6 de Fevereiro de 2012

A prova de que o tamanho interessa.
GEORGE SPROTT: 1894-1975
Seth
Drawn & Quarterly, 2009
96 págs., tetracromia

Há duas edições de George Sprott: 1894-1975, uma em capa dura e outra de capa mole, as duas são em formato grande (pelo menos maior que o formato típico norte-americano), sendo a de capa dura maior (12x14 polegadas, aproximadamente, 30x35 cm). Isto pode parecer ser uma questão de pormenores mas este livro faz-se disso mesmo.
George Sprott é uma celebridade de terceira categoria que apresenta um programa num canal regional, um talk-show onde entrevista o convidado do dia e  revive glórias passadas sob a forma da exibição de antigos filmes seus de antigas aventuras suas no Ártico. George é também o protagonista do livro, se bem que o é mais de forma passiva. Trata-se do relato da sua morte intercalado por uma série de entrevistas a conhecidos e a familiares, memórias passadas e, em dupla página (portanto, 30x70 cm), paisagens gélidas e etéreas. Não é o usual elogio fúnebre, aqui não se doura a pílula, acompanhados por um narrador que se diz omnisciente mas que ao mesmo tempo admite não ter todos os factos sobre o sucedido, cheio de incertezas, é nos traçado o perfil do personagem, o bom e o mau. Aos poucos construímos George, basta seguir as pistas.
É mais um livro deslumbrante de Seth (Gregory Gallant) que já nos acostumou à minúcia e à nostalgia. E tudo é minúcia e nostalgia no livro, desde o seu desenho simples, reminiscente dos cartunistas do início do século XX, até às fotografias de pequenas maquetes dos diferentes prédios que marcaram a vida de Sprott, coisa que me esqueci de referir antes. Mais, é usando o que andam por aí a chamar de decompression (descompressão narrativa?, cada vez mais comum na bd norte-americana e já alicerce no manga), que Seth nos instila o passo lento de uma vida, o "regresso doloroso a casa".
Voltemos à questão do formato. Foi fundamental a panorâmica da abertura do livro - foi pensado, só pode - que traz consigo todos os benefícios à leitura de uma bd que tanto depende do sentimento de solidão e isolamento. 
Já agora, esta bd é uma versão redux da história que decorreu na secção The Funny Pages do    New York Times, e tendo em conta o conteúdo, isso sim, é mesmo engraçado.

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