1 de Abril de 2014

Oli Riches
CAPTAIN AMERICA: THE WINTER SOLDIER
De Joe e Anthony Russo
Com Chris Evans, Scarlet Johansson, Samuel L. Jackson, Robert Redford e outros
136 min

A Marvel Studios parece que faz carreira de lançar blockbusters. Mesmo o precalço ocasional não tem vindo a prejudicar a qualidade global dos filmes lançados. Ajuda imenso estar a ser adoptado um universo comum. Sim, estes filmes são unidades independentes mas referem-se entre si e contribuem para uma narrativa maior.
Este último lançamento, Captain America: The Winter Soldier, está em continuidade com o primeiro filme, com a série televisiva satélite, e, particularmente, com o filme Avengers.
O primeiro filme, Captain American: The First Avenger, é a história de origem da personagem. Steve Rogers, mais pelo seu carácter que por atributos físicos, é escolhido para ser um super-soldado e a principal arma contra o regime nazi. A história passa-se durante o período da Segunda Guerra Mundial e termina com o sacrifício do Capitão que, convenientemente, acaba por sobreviver num estado de animação suspensa até os tempos modernos. E assim começa o verdadeiro sacrifício de Rogers, um homem deslocado no tempo, deixou para trás tudo o que lhe era familiar e terá de aprender a viver neste admirável mundo novo. Neste segundo filme, encontramos o Capitão ainda num processo de adaptação desconfortável e a trabalhar para a S.H.I.E.L.D. como o bom soldado que é.
É um filme de acção com elementos de espionagem e cumpre bem aquilo a que se propunha: entreter e propulsionar o espectador a ver os outros filmes do conjunto. "Gotta catch'em all!"
Agora, em vez de fazer um resumo do enredo, vou focar-me em alguns aspectos que considero mais interessantes. 
Primeiro o protagonista, este Capitão é quase um ser assexuado, evita activamente relacionar-se com o género oposto, apesar da sua masculinidade nunca ser posta em questão. É o exemplo do americano perfeito, valores e ideais, como acaba por evidenciar no seu discurso, próximo do fim do filme.
Quando confrontado com as opções mais "autoritárias" da S.H.I.E.L.D., levanta a sua voz em oposição contra as políticas optadas e a figura patriarcal de Nick Fury que as crê justificadas pelos acontecimentos no passado. Soa-vos familiar? O policiamento global por parte dos E.U.A. pelo bem de todos? Não, a mim também não.
Em vez de o filme explorar uma posição mais rebelde de Rogers e tornar-se numa alegoria para a luta contra a autoridade, opta-se por uma solução muito mais "americana".
Afinal a S.H.I.E.L.D. é um organismo inocente parasitado por indivíduos corruptos - a Hydra - que a manipulam para atingir os seus intentos maléficos. Pode-se até dizer que, embora se passe na actualidade, este filme é mais do que uma sequela directa aos acontecimentos do primeiro filme. Podia muito bem passar-se nos anos 50, altura em que a América vivia o terror do comunismo e o medo da infiltração dos principais alicerces da sociedade americana - a Quinta Coluna.
Este remanescente de um mal antigo (que nem o soldado perfeito conseguiu eliminar) subsistiu e espalhou-se pelas estruturas de poder e, mesmo assim, é uma entidade frágil, pois sente-se ameaçada por uns milhões de indivíduos que têm de ser eliminados a todo o custo. E quem arca com esse custo? O contribuinte americano. Não há dúvida que foi através do aumento de impostos que se conseguiram construir aqueles helicarriers. Fico à espera de ver os nossos a pairarem pelos céus portugueses.
Outra questão interessante, também tipicamente americana, é a da representatividade étnica. De importância tal que o grupo do Capitão durante a Segunda Guerra Mundial tem, obrigatoriamente, que ter um afro descendente e um asiático no seu plantel apesar do "texto fonte". Sem falar do Falcão e da Viúva Negra. E que tal atirar todo esse idealismo racial pela janela fora?
Um branco poderoso, o secretário Pierce, tem uma empregada latina lá em casa, que é, estupidamente, responsabilizada pela sua própria morte (se ao menos fosse mais bem educada...). Perpetuação de estereotipia racial ou exemplo real?
Que tal voltar ao capitão? Há melhor exemplo da pureza ariana? Hitler deve ter ficado orgulhoso por ter sido derrotado por este espécimen.
Não tão claro no filme são as tendências esquerdistas do Capitão, sempre a ultrapassar Sam Wilson pela esquerda e a anunciá-lo em alto e bom som. Obviamente não pode explorar estas opiniões durante o filme, estava demasiado ocupado a enfrentar os comunistas, perdão, nazis. Mesmo assim, após a derrota inevitável dos maus, volta a reiterar a sua posição. Para além do seu melhor amigo estar do outro lado das trincheiras e chamar-se de Winter Soldier e empunhar no seu braço metálico uma linda estrela soviética. Subtil.
A prepotência da visão política americana é colocada ainda mais em destaque quando, nas audiências pós-catástrofe, a Viúva Negra é confrontada com o papel controverso da S.H.I.E.L.D. e defende-se afirmando que é algo necessário à nação e que atenua qualquer penalização imposta.
Quem diria que este blockbuster seria tão político? Quem diria que é uma alegoria para a América dos anos 50? Quem diria que acção, espionagem, explosões, gajos e gajas boas = política.
Ah, é verdade, o Capitão é macho. Afinal sempre vai convidar a Agente 13 para sair. Em relação a isso quem é que o pode censurar?

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