3 de Janeiro de 2018

"I never thought out adventure would end here"
NO MERCY, VOL. 1
Alex de Campi, Carla Speed McNeil & Jenn Manley Lee
Image Comics, 2015
120 págs., tetracromia, capa mole


Eu comprei o primeiro número de "No Mercy" em floppy e ainda não tinha lido nada assim. Um grupo de estudantes americanos do secundário foram em visita de estudo a Mataguey com o objectivo de construir uma escola - fica sempre bem num currículo de candidatura ao ensino superior, retorque Lily, a mais vocal das personagens naquelas primeiras páginas.
A interacção dos adolescentes era credível e, se bem que  dependente de alguns estereótipos, engraçada. A história começa a estabelecer no leitor a famosa "falsa sensação de segurança" e depois o status quo é destroçado violenta e brutalmente.
É precisamente nesta brutalidade que reside o ponto mais forte da história, que converte o relato da vivência adolescente num de sobrevivência e relacionamentos humanos em condições de stress extremo: desde o abuso ao preconceito à perda do melhor amigo para uma matilha de coiotes(!).

A minha principal dificuldade foi digerir os emoticons e as referências a uma contemporaneidade que não acredito ser vivida pelos adolescentes como é retratada nesta bd. Há alguns problemas também com o ritmo da narrativa, que não parece fluir tão bem como devia, penso que poderia melhorar se fosse possível intercalar o tempo presente com a história pregressa das personagens (mas suspeito que seja influência do fã de "Lost" em mim).
Portanto, abordado o trabalho de Alex de Campi, passo agora a Carla Speed McNeil que, sendo muito sincero, sei ser melhor desenhadora. Não há uma consistência de estilo de traço e, mais notoriamente, de proporções. É pena, porque o seu trabalho no seu projeto pessoal - "Finder" - está a léguas em termos de qualidade e "No Mercy" perde também um pouco pelo seu aspecto pouco trabalhado e tentativamente redimido pelas cores de Jenn Manley Lee.
Há, no entanto, momentos de grande eficácia narrativa, especificamente os que dependem do contraste entre as duas realidades do livro (p.e., as memórias de infância de Tiffani invadidas pelas varejeira do presente).

Resumindo, "No Mercy" desiludiu-me, especialmente após a promessa daquele primeiro número dos fascículos que praticamente me obrigou a comprar este primeiro volume.
Não é, seguramente, um "Teen Lost", mas também não tem de ser.

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