27 de Dezembro de 2018 (II)


Bem-vindos de volta ao que é um pedido pouco velado de banda desenhada - uma wishlist do que mais me intrigou em 2018. Uma oportunidade única de saber o que me oferecer em 2019!


TUMULT
John Harris Dunning & Michael Kennedy
SelfMadeHero, 2018
176 págs., tetracromia, capa dura

O quê de quem?  "Tumult" de J.H. Dunning e Michael Kennedy, claro!
Ainda não tinhas ouvido falar desta bd? Bem, eu também não, até ter visto a arte de Kennedy e pensar "isto lembra-me um pouco o tipo das duplas consoantes" (especificamente, o Mazzucchelli dos anos 80).
Mais um que sei pouco do enredo mas... já viram aquela capa?!


UNREAL CITY
D.J. Bryant
Fantagraphics Books, 2017
104 págs., P&B, capa dura

Segundo a Fantagraphics, "Unreal City" contém 5 histórias emocionalmente carregadas sobre relacionamentos. Óptimo, exactamente o que o leitor imaturo de bd precisa (se fosses emocionalmente maduro(a) andavas a ler livros sem imagens).
O facto da arte de D.J. Bryant fazer lembrar Jaime Hernandez parece-me só mais uma boa razão para ler este livro.


YOUNG FRANCES
Hartley Lin
AdHouse Books, 2018
144 págs., P&B, capa dura

Já leio "Pope Hats" há alguns anos e o autor, na altura sob o pseudónimo (e anagrama!) de Ethan Rilly, já me tinha cativado com o seu estilo de ligne claire e com o seu estudo intimista da vida dos recém-adultos no inicio do século XXI.
Agora Hartley Lin compila essas histórias continuadas num tomo único de beleza essencial chamado "Young Frances".
Quero muito ter este livro numa estante minha.


Chegado ao fim desta pequena apresentação, noto um padrão (mas haverá ainda alguém que goste de bd americana indie a preto e branco publicada pela Fantagraphics?) e calculo que fique tudo por volta de uns 78 euros, não sei, talvez, who's counting? Eu. Eu estou a contar. Convosco.

27 de Dezembro de 2018 (I)

Já se passaram uns 4 anos desde que fiz algo semelhante, mas dada a data e a minha vontade, cá fica uma espécie de wishlist para 2019 (sem um único título de 2019, isto não é uma antevisão!).


CARTOON CLOUDS
Joseph Remnant
Fantagraphics Books, 2017
164 págs., P&B, capa dura

Joseph Remnant trabalhou com Harvey Pekar em "Cleveland". O seu traço limpo mas pormenorizado é o exemplo do que o cartunista americano independente pode ser e o que Pekar procurava nas ilustrações das suas estórias realistas do quotidiano.
Este não é o primeiro trabalho a solo de Remnant, previamente com a típica one man anthology "Blindspot", mas parece ser aquele em que emprega todo o seu virtuosismo.
Vocês já viram aquela capa?


I AM YOUNG
M. Dean
Fantagraphics Books, 2018
108 págs., tetracromia, capa dura

Por acaso, apanhei de soslaio a arte de M. Dean numa dessas redes sociais que a juventude usa e fiquei impressionado com o seu desenho agridoce e cores corajosas.
Apesar de não saber muito sobre o seu conteúdo, "I am young" foi considerada uma das melhores bds do ano por uma dessas páginas na internet que os velhotes lêem.


SABRINA
Nick Drnaso
Drawn and Quarterly, 2018
204 págs., tetracromia, capa dura

Que dizer sobre "Sabrina"? Long listed para o Man Booker Prize deste ano, considerado uma obra-prima pela escritora Zadie Smith, etc.
Do mesmo autor de "Beverly" que está na minha estante há dois anos a ganhar pó, "Sabrina" era a segunda vinda da bd ao panorama das artes "sérias", agora é só para nós. Outra vez.


Acaba aqui a primeira parte das prendas que me podiam oferecer em 2018. No fim do dia continuo com esta lista de coisas que ainda me podem oferecer em 2019.

21 de Dezembro de 2018

Esta Floppy Friday tem o patrocínio da Sétima Dimensão - basicamente porque foi lá que comprei os fascículos. Se estiverem alguma vez pela Madeira passem por lá!

Uma explicação breve: em 2016 a Marvel lançou uma linha chamada Timely Comics que recompilava, a um preço mais acessível, os três primeiros números dos títulos do reboot Marvel Now! - mais uma tentativa fútil de introduzir as personagens a novos leitores.

HULK #1
Mariko Tamaki & Nico Leon
Marvel Comics, 2016
22 págs., tetracromia, floppy

Uma Jennifer Walters traumatizada - não sei e, sinceramente, tenho pouco interesse no que se passou entre o Hulk e o Hawkeye.  - luta para regressar à sua vida normal enquanto advogada.
Optar por uma transformação difícil é algo interessante para a personagem, que sempre foi mais leve e bem-humorada, e que justifica bem a mudança do título para "Hulk".


TIMELY COMICS: DOCTOR STRANGE #1
Jason Aaron & Chris Bachalo
Marvel Comics, 2016
58 págs., tetracromia, floppy

O doutor Stephen Strange é o feiticeiro supremo do Universo Marvel, protegendo a sua dimensão de ataques sobrenaturais externos.
Uma visão mais terra-a-terra do papel do Doctor Strange na vida dos nova-iorquinos. Um bar para pessoas da magia. Um Sanctum Sanctorum "TARDIS-ficado".
O Bachalo nasceu para desenhar este título.


TIMELY COMICS: THE TOTALLY AWESOME HULK #1
Greg Pak & Frank Cho
Marvel Comics, 2016
58 págs., tetracromia, floppy

Quando não se morre pelas mãos de colegas, é-se transformado numa bomba. Mais uma vez, a ausência de Bruce Banner motiva outro herói a ocupar o vazio deixado. Amadeus Cho é a oitava pessoa mais inteligente do Universo Marvel e é também o novo Hulk.
Um começo lento com um Hulk adolescente caçador de monstros. A arte de Frank Cho é linda, apesar de igual ao de sempre.


No meio a virtude. Doctor Strange é o título mais forte dos três em termos de enredo e arte, podem até dizer que o Frank Cho desenha melhor mas está a servir um público mais interessado nos atributos físicos das personagens do que uma história em particular.

15 de Dezembro de 2018

"Qué coño sabrás tú de la libertad."
MATERIA
Antonio Hitos
Astiberri Ediciones, 2016
110 págs., tetracromia, capa dura


Antonio Hitos surgiu completamente formado enquanto artista com "Inércia", o seu romance gráfico vencedor do Premio Internacional de Novela Gráfica Fnac-Salamandra Graphic de 2013.

O seu estilo gráfico estilizado geométrico é inicialmente chocante - o afastamento emocional causado pelo aspecto frio e calculado contrasta com os temas humanistas abordados.

"Materia" manifesta-se dentro do mesmo esquema que "Inércia" (lido e algo esquecido na altura que saiu há 4 anos). 
Numa sociedade em que as abduções por alienígenas são lugar comum e até investidas com importância religiosa, somos apresentados a 3 casos de estudo, cada um com consequências e resoluções diferentes.

Hitos é um contador de histórias desenvolto, produz um mundo coerente e verosímil, mesmo habitado por répteis e anfíbios antropomorfizados, cada detalhe de fundo (ou mesmo em primeiro plano como os reclames) acrescenta solidez ao mundo que retrata. Destaca-se ainda pela sua capacidade de intervalar a narrativa com momentos de pausa, permitindo ao leitor digerir ao que foi exposto antes calmamente e a seu ritmo.

Não sei se alguma vez chegarei a atingir o significado completo do que Hitos quer explorar com os seus trabalhos, só sei que são algo que merece ser lido.

8 de Dezembro de 2018

"Adiós, Eva."
COSMONAUTA
Pep Brocal
Astiberri Ediciones, 2017
172 págs., dicromia, capa mole


Deus existe. Deus existe e a Humanidade está perdida.

Quando uma catástrofe destina a Terra à sua inevitável destruição, o conglomerado global reúne uma série de candidatos para viajar até aos limites do espaço em busca do Criador.
Héctor Mosca é um dos cosmonautas cuja missão é interpelar o Todo-Poderoso e pedir uma segunda oportunidade à Humanidade. Ou será?

Não se deixem enganar pela premissa quasi-ficção científica, o "Cosmonauta" é um livro intimista sobre a vida de um homem e a forma como este a interpreta.
Cheio de voltas e contravoltas, o enredo serve o objectivo de nos dar a conhecer Héctor e como ele lida com a solidão e as decisões tomadas no passado. Uma espécie de mapa pessoal do seu confronto com a inexorabilidade da vida e da morte.

O desenho de Pep Brocal é intuitivamente familiar - uma espécie de David Rubín amadurecido, sem extravagâncias de traço, essencial nas suas escolhas -, cartunismo puro de exagero e representação. A escolha inspirada de optar por duas cores principais, nenhuma delas em sincronia com o delinear das personagens e ambientes, acrescenta à sensação da simplicidade que esconde a complexidade das ideias exploradas.

Pela sua fluidez, profundidade de conceitos e capacidade de ficar na memória do leitor, o "Cosmonauta" é de leitura obrigatória. Para ler assim que se tiver oportunidade porque, como o livro ensina, não há segundas chances.

1 de Dezembro de 2018

LIGHT
Rob Cham
Magnetic Press, 2016
108 págs., tetracromia, capa dura


"Light" do autor filipino Rob Cham é uma leitura...leve (peço perdão...).
Sem o uso da palavra escrita, exploramos um mundo sem cor e as criaturas que o habitam.

O protagonista não tem nenhuma característica extraordinária que o defina, excepto ser particularmente adorável e andar à procura de uma pedras preciosas que um ancião o incumbiu de encontrar.

A leitura não traz nada de novo, é rápida e descomplicada, com cada página a funcionar como uma vinheta. O traço de Cham resume-se ao essencial, brincando necessariamente com os contrastes entre luz e sombras e, inevitavelmente, cor.

Recomenda-se a alguém que se esteja a iniciar nestas coisas da banda desenhada e não queira nada que seja intelectualmente muito "puxado". Provavelmente, uma boa opção para crianças por volta dos 7-8 anos.
Em termos culinários, é fofo mas sem grande recheio.