30 de Maio de 2020

"Cookies fix everything."
SHUTTER VOL. 1 : WANDERLOST
Joe Keatinge, Leila Del Duca & Owen Gieni
136 págs., tetracromia, digital



A determinada altura inscrevi-me no NetGalley, um sítio  online onde podemos requerer leituras avançadas de conteúdos ainda por publicar. 
Parecia-me uma boa ideia, em troca de uma versão digital, escrever uma análise do que foi lido. Fácil. Até eu perder o controlo e requerer mais do que escrevia. 
Meia década depois decidi limpar a consciência e reler as coisas sobre as quais não escrevi e finalmente fazê-lo. Um desses livros era o primeiro volume de "Shutter" de Joe Keatinge e Leila Del Duca.
"Wanderlost" colecciona os seis primeiros números do comic e...bem, são uma treta. Calma, não é só uma entrada a pés juntos, "Wanderlost" tem coisas boas mas peca muito por ser insípido e lento. 
Vou começar pelo negativo. 
Primeiro, 136 páginas é o dobro das páginas necessárias para se contar o que se passou: Kate Khristopher é filha e herdeira de um explorador de coisas fantásticas e esse parece ser o negócio de família; parece estar a viver um momento de maior desencanto pela vida;  dez anos após a morte do seu pai descobre que não era filha única e conhece o seu irmão mais novo; e é isto. Tudo o resto é supérfluo, o mundo fantástico com criaturas extraordinárias que não é verdadeiramente explorado (não há estrutura, só criaturas teriomórficas, discos voadores, robôs, deuses intergalácticos...), a inconsistência das personagens (a caçadora de recompensas que mata toda a gente só para parecer um desafio mais tarde e acabar por não o ser, a irmã que a quer morta e já não quer), o desenvolvimento lento e, pior, a repetição repetida e repetitiva de conceitos que já todos (o leitor e a protagonista) integrámos e ultrapassámos: Kate tem irmãos e eles são maus e estão lá mas afinal não estão e a ama "General" dela sabe coisas e afinal já não sabe, etc. Frustrante.
Parece ter sido feito à pressa e sem grande planeamento por detrás. Keatinge já fez coisas bem melhores que isto. Nem todos os capítulos precisam de acabar com um cliffhanger!
O mais divertido foram as referências ao mundo de Richard Scarry (a vida da minhoca com o chapéu tirolês enveredou por caminhos mais sombrios) , Felix the Cat (adoro o design do Alarm Cat) e a Boris Vian (só o nome porque o surrealismo é fraquinho), que podiam ser boas influências a explorar mas são só superfícies mal polidas.
Já Leila Del Duca começa em modo de corrida, tem um estilo de desenho bonito e espontâneo com margem para crescer, já que denuncia um pouco o uso do digital (tenho essa sensação mas sem certeza). As cores de Owen Gieni ajudam ao traço de Del Duca, especialmente em algumas situações em que o desenho está menos refinado.
O potencial está todo ali, precisava era de ser mais mastigado pelo argumentista, em vez de regurgitado múltiplas vezes. Deixa um mau sabor na boca.

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