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15 de Maio de 2022

MURDER FALCON
Daniel Warren Johnson & Mike Spicer
Image Comics, 2019
208 págs., tetracromia, capa mole

No ano longínquo de 2018, li o primeiro número da minissérie "Murder Falcon" de Daniel Warren Johnson (argumento e desenho) e Mike Spicer (cores) e senti que tinha um encanto saudosista - um falcão antropomórfico era energizado pelo poder do Heavy Metal para combater uma ameaça interdimensional - que lembrava as séries de animação dos anos 90 (quem passou a infância nessa década sabe do que falo). Acabei por comprar a colecção dos oito números e após 3 anos (2 deles não contam, ninguém se recorda do que fez na pandemia) finalmente li-a e, sim, aquelas primeiras 20 e tal páginas lidam bem com a essa energia - uma paródia bem feita do que nos fazem recordar.
O grande problema de "Murder Falcon" é que não se fica por aqui.
Aparentemente inspirado num episódio particular da vida de Johnson, a ideia da história era mostrar como quando temos algo que amamos na nossa vida, esse amor permite-nos ultrapassar os momentos mais difíceis. 
O protagonista Jake tem uma vida de isolamento após um momento trágico na sua vida e de repente vê a sua vida invadida por Murder Falcon que precisa que ele regresse às suas guitarradas para usar essa energia com fonte de poder no combate a monstros transdimensionais que invadiram a Terra. Com a ajuda de Murf (o seu apelido para Murder Falcon), Jake vai reatar laços perdidos e reencontrar a sua paixão pelo Metal. E é aqui que a história começa a falhar.
Falha porque sinto que não explora bem o suficiente as relações entre as personagens que acabam por surgir como um preâmbulo para a introdução de novas criaturas de proporções cada vez maiores numa sequência algo repetitiva até um confronto final pessoal entre Jake e o vilão da história. O que se passa é que o equilíbrio entre as cenas pessoais e o mundo sobrenatural apresentado está mal, err, equilibrado.
Para além de nos tentar fintar com vários red herrings, Johnson não consegue transmitir uma ideia mais aprofundada de quem são as personagens do livro. Sabemos o que gostam e parcialmente as suas dificuldades diárias mas a forma como as encaram é resumida em uma ou duas páginas inconsequentes antes de uma cena de acção. Murf é ligeiramente menos unidimensional que um pedaço de cartão, as outras personagens têm relevo mas é preciso incliná-las para que o sol lhes bata da forma mais correcta para nos apercebermos disso.
Dito isto, o ponto mais forte do livro é a sua arte. Johnson é conhecido pelo seu dinamismo e representação de movimento e este livro não é uma excepção e Spicer acrescenta uma paleta estrondosa com escolhas de cores vibrantes e, ao mesmo, tempo, harmoniosas.
Basicamente, um livro com potencial mas realizado de forma superficial (Já agora, li o "Beta Ray Bill" e senti o mesmo e nem vou falar de "Jurassic League"... Mas se gostaram deste, já têm o que ler.) - o que faz com que seja bastante fiel às séries de animação que me referia (Não recomendo vê-las novamente, mais vale que vivam no vale cor-de-rosa das nossas memórias de infância.).

30 de Maio de 2020

"Cookies fix everything."
SHUTTER VOL. 1 : WANDERLOST
Joe Keatinge, Leila Del Duca & Owen Gieni
136 págs., tetracromia, digital



A determinada altura inscrevi-me no NetGalley, um sítio  online onde podemos requerer leituras avançadas de conteúdos ainda por publicar. 
Parecia-me uma boa ideia, em troca de uma versão digital, escrever uma análise do que foi lido. Fácil. Até eu perder o controlo e requerer mais do que escrevia. 
Meia década depois decidi limpar a consciência e reler as coisas sobre as quais não escrevi e finalmente fazê-lo. Um desses livros era o primeiro volume de "Shutter" de Joe Keatinge e Leila Del Duca.
"Wanderlost" colecciona os seis primeiros números do comic e...bem, são uma treta. Calma, não é só uma entrada a pés juntos, "Wanderlost" tem coisas boas mas peca muito por ser insípido e lento. 
Vou começar pelo negativo. 
Primeiro, 136 páginas é o dobro das páginas necessárias para se contar o que se passou: Kate Khristopher é filha e herdeira de um explorador de coisas fantásticas e esse parece ser o negócio de família; parece estar a viver um momento de maior desencanto pela vida;  dez anos após a morte do seu pai descobre que não era filha única e conhece o seu irmão mais novo; e é isto. Tudo o resto é supérfluo, o mundo fantástico com criaturas extraordinárias que não é verdadeiramente explorado (não há estrutura, só criaturas teriomórficas, discos voadores, robôs, deuses intergalácticos...), a inconsistência das personagens (a caçadora de recompensas que mata toda a gente só para parecer um desafio mais tarde e acabar por não o ser, a irmã que a quer morta e já não quer), o desenvolvimento lento e, pior, a repetição repetida e repetitiva de conceitos que já todos (o leitor e a protagonista) integrámos e ultrapassámos: Kate tem irmãos e eles são maus e estão lá mas afinal não estão e a ama "General" dela sabe coisas e afinal já não sabe, etc. Frustrante.
Parece ter sido feito à pressa e sem grande planeamento por detrás. Keatinge já fez coisas bem melhores que isto. Nem todos os capítulos precisam de acabar com um cliffhanger!
O mais divertido foram as referências ao mundo de Richard Scarry (a vida da minhoca com o chapéu tirolês enveredou por caminhos mais sombrios) , Felix the Cat (adoro o design do Alarm Cat) e a Boris Vian (só o nome porque o surrealismo é fraquinho), que podiam ser boas influências a explorar mas são só superfícies mal polidas.
Já Leila Del Duca começa em modo de corrida, tem um estilo de desenho bonito e espontâneo com margem para crescer, já que denuncia um pouco o uso do digital (tenho essa sensação mas sem certeza). As cores de Owen Gieni ajudam ao traço de Del Duca, especialmente em algumas situações em que o desenho está menos refinado.
O potencial está todo ali, precisava era de ser mais mastigado pelo argumentista, em vez de regurgitado múltiplas vezes. Deixa um mau sabor na boca.

27 de Dezembro de 2018 (II)


Bem-vindos de volta ao que é um pedido pouco velado de banda desenhada - uma wishlist do que mais me intrigou em 2018. Uma oportunidade única de saber o que me oferecer em 2019!


TUMULT
John Harris Dunning & Michael Kennedy
SelfMadeHero, 2018
176 págs., tetracromia, capa dura

O quê de quem?  "Tumult" de J.H. Dunning e Michael Kennedy, claro!
Ainda não tinhas ouvido falar desta bd? Bem, eu também não, até ter visto a arte de Kennedy e pensar "isto lembra-me um pouco o tipo das duplas consoantes" (especificamente, o Mazzucchelli dos anos 80).
Mais um que sei pouco do enredo mas... já viram aquela capa?!


UNREAL CITY
D.J. Bryant
Fantagraphics Books, 2017
104 págs., P&B, capa dura

Segundo a Fantagraphics, "Unreal City" contém 5 histórias emocionalmente carregadas sobre relacionamentos. Óptimo, exactamente o que o leitor imaturo de bd precisa (se fosses emocionalmente maduro(a) andavas a ler livros sem imagens).
O facto da arte de D.J. Bryant fazer lembrar Jaime Hernandez parece-me só mais uma boa razão para ler este livro.


YOUNG FRANCES
Hartley Lin
AdHouse Books, 2018
144 págs., P&B, capa dura

Já leio "Pope Hats" há alguns anos e o autor, na altura sob o pseudónimo (e anagrama!) de Ethan Rilly, já me tinha cativado com o seu estilo de ligne claire e com o seu estudo intimista da vida dos recém-adultos no inicio do século XXI.
Agora Hartley Lin compila essas histórias continuadas num tomo único de beleza essencial chamado "Young Frances".
Quero muito ter este livro numa estante minha.


Chegado ao fim desta pequena apresentação, noto um padrão (mas haverá ainda alguém que goste de bd americana indie a preto e branco publicada pela Fantagraphics?) e calculo que fique tudo por volta de uns 78 euros, não sei, talvez, who's counting? Eu. Eu estou a contar. Convosco.

27 de Dezembro de 2018 (I)

Já se passaram uns 4 anos desde que fiz algo semelhante, mas dada a data e a minha vontade, cá fica uma espécie de wishlist para 2019 (sem um único título de 2019, isto não é uma antevisão!).


CARTOON CLOUDS
Joseph Remnant
Fantagraphics Books, 2017
164 págs., P&B, capa dura

Joseph Remnant trabalhou com Harvey Pekar em "Cleveland". O seu traço limpo mas pormenorizado é o exemplo do que o cartunista americano independente pode ser e o que Pekar procurava nas ilustrações das suas estórias realistas do quotidiano.
Este não é o primeiro trabalho a solo de Remnant, previamente com a típica one man anthology "Blindspot", mas parece ser aquele em que emprega todo o seu virtuosismo.
Vocês já viram aquela capa?


I AM YOUNG
M. Dean
Fantagraphics Books, 2018
108 págs., tetracromia, capa dura

Por acaso, apanhei de soslaio a arte de M. Dean numa dessas redes sociais que a juventude usa e fiquei impressionado com o seu desenho agridoce e cores corajosas.
Apesar de não saber muito sobre o seu conteúdo, "I am young" foi considerada uma das melhores bds do ano por uma dessas páginas na internet que os velhotes lêem.


SABRINA
Nick Drnaso
Drawn and Quarterly, 2018
204 págs., tetracromia, capa dura

Que dizer sobre "Sabrina"? Long listed para o Man Booker Prize deste ano, considerado uma obra-prima pela escritora Zadie Smith, etc.
Do mesmo autor de "Beverly" que está na minha estante há dois anos a ganhar pó, "Sabrina" era a segunda vinda da bd ao panorama das artes "sérias", agora é só para nós. Outra vez.


Acaba aqui a primeira parte das prendas que me podiam oferecer em 2018. No fim do dia continuo com esta lista de coisas que ainda me podem oferecer em 2019.

21 de Dezembro de 2018

Esta Floppy Friday tem o patrocínio da Sétima Dimensão - basicamente porque foi lá que comprei os fascículos. Se estiverem alguma vez pela Madeira passem por lá!

Uma explicação breve: em 2016 a Marvel lançou uma linha chamada Timely Comics que recompilava, a um preço mais acessível, os três primeiros números dos títulos do reboot Marvel Now! - mais uma tentativa fútil de introduzir as personagens a novos leitores.

HULK #1
Mariko Tamaki & Nico Leon
Marvel Comics, 2016
22 págs., tetracromia, floppy

Uma Jennifer Walters traumatizada - não sei e, sinceramente, tenho pouco interesse no que se passou entre o Hulk e o Hawkeye.  - luta para regressar à sua vida normal enquanto advogada.
Optar por uma transformação difícil é algo interessante para a personagem, que sempre foi mais leve e bem-humorada, e que justifica bem a mudança do título para "Hulk".


TIMELY COMICS: DOCTOR STRANGE #1
Jason Aaron & Chris Bachalo
Marvel Comics, 2016
58 págs., tetracromia, floppy

O doutor Stephen Strange é o feiticeiro supremo do Universo Marvel, protegendo a sua dimensão de ataques sobrenaturais externos.
Uma visão mais terra-a-terra do papel do Doctor Strange na vida dos nova-iorquinos. Um bar para pessoas da magia. Um Sanctum Sanctorum "TARDIS-ficado".
O Bachalo nasceu para desenhar este título.


TIMELY COMICS: THE TOTALLY AWESOME HULK #1
Greg Pak & Frank Cho
Marvel Comics, 2016
58 págs., tetracromia, floppy

Quando não se morre pelas mãos de colegas, é-se transformado numa bomba. Mais uma vez, a ausência de Bruce Banner motiva outro herói a ocupar o vazio deixado. Amadeus Cho é a oitava pessoa mais inteligente do Universo Marvel e é também o novo Hulk.
Um começo lento com um Hulk adolescente caçador de monstros. A arte de Frank Cho é linda, apesar de igual ao de sempre.


No meio a virtude. Doctor Strange é o título mais forte dos três em termos de enredo e arte, podem até dizer que o Frank Cho desenha melhor mas está a servir um público mais interessado nos atributos físicos das personagens do que uma história em particular.

1 de Dezembro de 2018

LIGHT
Rob Cham
Magnetic Press, 2016
108 págs., tetracromia, capa dura


"Light" do autor filipino Rob Cham é uma leitura...leve (peço perdão...).
Sem o uso da palavra escrita, exploramos um mundo sem cor e as criaturas que o habitam.

O protagonista não tem nenhuma característica extraordinária que o defina, excepto ser particularmente adorável e andar à procura de uma pedras preciosas que um ancião o incumbiu de encontrar.

A leitura não traz nada de novo, é rápida e descomplicada, com cada página a funcionar como uma vinheta. O traço de Cham resume-se ao essencial, brincando necessariamente com os contrastes entre luz e sombras e, inevitavelmente, cor.

Recomenda-se a alguém que se esteja a iniciar nestas coisas da banda desenhada e não queira nada que seja intelectualmente muito "puxado". Provavelmente, uma boa opção para crianças por volta dos 7-8 anos.
Em termos culinários, é fofo mas sem grande recheio.

30 de Novembro de 2018

Mais uma ida esporádica a uma loja de bd e desta vez a Image Comics faz o pleno. De facto, é das poucas editoras de floppies que tem mensalmente primeiros números nas bancas. É um pouco injusto para os outros títulos mas eu também não tenho grande interesse em começar no número 240 do Savage Dragon.


BLACKBIRD #1
Sam Humphries & Jen Bartel
Image Comics, 2018
24 págs., tetracromia, floppy

Nunca li nada de Sam Humphries e nem tinha ouvido falar de Jen Bartel. "Blackbird" tem um visual apelativo mas por debaixo da estética está uma fantasia urbana protagonizada por personagens subdesenvolvidas (sim, eu sei, é um primeiro número) e arte bonita mas estática (eu devia ter desconfiado, quando é preciso um artista de layouts...).

MCMLXXV #1
Joe Casey & Ian MacEwan
Image Comics, 2018
20 págs., tetracromia, floppy

"MCMLXXV" é uma fantasia urbana de época, mas ao contrário de "Blackbird" - algo surpreendentemente dado o estatuto de "patinho feio" de Joe Casey - explora melhor as personagens, com Ian MacEwan ao leme da arte com um estilo "feio-bonito" (pensem em Frank Quitely ou Ian Bertram). Inspirado em mitologia grega, blaxploitation e no ambiente neo noir de Taxi Driver.

MURDER FALCON #1
Daniel Warren Johnson & Mike Spicer
Image Comics, 2018
24 págs., tetracromia, floppy

Fui apresentado a Daniel Warren Johnson com "Space Mullet!", um webcomic de título satírico que revela a filosofia de vida do seu autor. "Murder Falcon" é como um típico desenho animado dos anos 80, daqueles com protagonistas antropomórficos guiados por ideais puros - neste caso que o Metal pode ajudar a salvar o mundo de uma ameaça transdimensional.


No fim de contas, duas apostas ganhas e uma a descartar. Como sempre, é uma questão de opinião. A minha.

7 de Setembro de 2018

Todos os meses saem mais uma meia dúzia de comics americanos novos. A maioria acaba esquecido nas estantes, como uma experiência fugaz. Por vezes são  uma tentativa de lançar uma ideia cá fora que possa vir a ser adaptada a meios mais respeitáveis e rentáveis (chamo-lhe o síndrome Millar).
De vez em quando, lá vou eu à loja ver se há alguma coisa que escape ao imperdoável passar do Tempo. Estas foram algumas escolhas desta semana.


DIE!DIE!DIE! #1
Robert Kirkman, Scott M. Gimple & Chris Burnham
Image Comics, 2018
24 págs., tetracromia, floppy

Um agente de mais uma organização governamental secreta americana é raptado. Outro agente é incumbido de o resgatar com a ajuda do seu irmão gémeo (um de três).
Uma visão diferente e mais ponderada sobre como proceder em termos de assassinatos políticos.
Acção violenta sem filtros, arte detalhada e diálogos vivos. 


DISSONANCE #1
Singgih Nugroho, Ryan Cady & Sami Basri
Top Cow Productions, 2018
24 págs., tetracromia, floppy

Neste universo criado por Melita Curphy, uma espécie alienígena veio à Terra à procura da resposta para os seus conflitos. Ao que parece, a "experiência humana" é essa resposta e, para tal, criam-se relações de simbiose entre as duas espécies.
Facções opostas numa luta não só política.
Arte limpa, design interessante.


LEVIATHAN #1
John Layman & Nick Pitarra
Image Comics, 2018
24 págs., tetracromia, floppy

Um monstro gigantesco é invocado por um grupo de pós-adolescentes entediados e começa a destruir tudo.
É isto.
Paródia dos filmes de kaiju japoneses e de terror americanos?
Arte pormenorizada que faz lembrar os desenhos animados da Nickelodeon dos anos 90.

2 Junho de 2018

"They're actually not funny anymore."
IT'S A BIRD...
Steven T. Seagle & Teddy Kristiansen
Vertigo Comics, 2005
136 págs., tetracromia, capa mole


Boa sorte para aqueles que partem para a leitura deste livro com a vontade de ler algo sobre o Super-Homem. "It's a Bird..." não é um elogio ao Homem de Aço. Ou melhor, não é somente isso.

O Steve (Seagle?) é um argumentista de banda desenhada a quem é oferecido o trabalho de sonho de todos os argumentistas de banda desenhada: escrever o título principal do Super-Homem. Quero dizer, o trabalho de sonho de todos excepto do próprio Steve.
Steve não se identifica com Kal-El, Clark Kent ou qualquer uma das diferentes iterações da personagem. Para ele, o Super-Homem é só um elemento periférico do que será a memória mais importante da sua vida: a morte da sua avó paterna.
Através da exploração dessa memória e do que está associado a ela - o segredo da família - Steve aborda o mito do primeiro super-herói, desconstruindo-o e investindo-o com a sua própria angústia.

"It's a Bird..." é um relato semi-autobiográfico dos medos de quem sabe que na família há uma doença que nos pode invalidar enquanto seres humanos e da forma como a interacção com os outros é influenciada por esses receios.

Visualmente, Teddy Kristiansen desdobra-se em diferentes estilos, embora todos de influência neo-realista (ouvi esse termo recentemente para descrever o trabalho da Susa Monteiro e parece-me apropriado, dadas as semelhanças estéticas entre os dois autores) que alicerçam o texto do Steve T. Seagle numa realidade ligeiramente distanciada mas paralela à nossa.

Recomendado para quem ainda precisa de um pé seguro nos super-heróis mas esteja disposto, aham, a outros vôos.

2 de Fevereiro de 2018

"If everyone dies, what shall the god of death do?!"
CLOUDIA & REX #1 (of 3)
Ulises Farinas, Erick Freitas & Daniel Irizarri 
Lion Forge Comics, 2017
23 págs., tetracromia, floppy


Nem há meio milhão de anos que a Humanidade calcorreia a Terra e quase desde o início sentiu a necessidade de companhia, de supervisão.
Há quase tantos panteões de deuses como civilizações humanas, plenos de divindades que representam as nossas inseguranças e dúvidas existenciais. E qual a maior que a morte?
Nos reinos divinos está a decorrer uma limpeza, os deuses estão a ser eliminados e substituídos por uma divindade única. Nem todos vão deixar que isso aconteça sem dar luta ou, neste caso, fuga. Thanatos (a Morte) e Hypnos (o Sonho) são dois deuses irmãos que decidiram - a iniciativa e plano partiu do primeiro, o perito da não-existência - não ficar no espaço transcendental à espera do oblívio. Com a ajuda de Ala, deusa do renascimento, partem para o plano terreno e, aparentemente, encontram santuário nos corpos de Cloudia e Rex, duas adolescentes em processo de mudança de casa após a perda do pai. Sempre com consciência de si mesmas (com os deuses no lugar do passageiro), Cloudia ganha uma força extraordinária e Rex é transformada num dos seus animais pré-históricos favoritos, um rinoceronte lanudo.
Claro, não seria uma verdadeira fuga se não houvessem perseguidores.

Quanto à escrita, a história parece engraçada, neste capítulo introdutório há pouco desenvolvimento de personagens - Cloudia apresenta-se como um estereótipo hiperbólico da adolescente revoltada - sendo que Thanatos é a mais desenvolvida. O enredo tem conotações metarreligiosas interessantes e potencial para mais.

A arte é também interessante, há um traço chorudo como se tivesse sido ampliado para o formato; o design de personagens é óptimo, os deuses têm todos um aspecto singular e facilmente identificável.

Esta bd traz à memória um webcomic que li há algum tempo -"Kill 6 billion demons" - pela variedade de personagens e temas semelhantes. Vou ler a colecção e digo-vos algo mais tarde (ou não).

14 de Janeiro de 2018

"I am nothing."
ZERO, VOL. 1: AN EMERGENGY
Ales Kot et al
Image Comics, 2014
172 págs., tetracromia, capa mole


As pessoas têm o seu Alan Moore ou o seu Grant Morrison como escritores que os surpreendem, confundem e deixam um travo de genialidade difícil de explicar à primeira leitura. Eu tenho o Aleš Kot.

No primeiro volume de "Zero" somos apresentados ao espião que dá nome ao livro, uma espécie de James Bond moderno na linha do que os filmes recentes da franquia nos têm habituado.
O recontar da vida de Edward Zero é feito de forma episódica, com saltos temporais, explorado diferentes missões com as suas diferentes repercussões no nosso protagonista - mentais, emocionais e físicas.
Pelo meio do enredo base, as habituais alucinações inventivas que Kot sabe fazer. E, claro, aquele cliffhanger, o fim que muda o género da narrativa e que nos lança para o desconhecido excitante.

Cada episódio/capítulo tem a peculiaridade de ser ilustrado por um diferente artista (daí o et al que vos informa que eram demasiados nomes para colocar nos créditos e que aqui posso divulgar, sequencialmente, Michael Walsh, Tradd Moore, Mateus Santolouco, Morgan Jeske e Will Tempest) com um estilo que melhor espelha o ambiente e estado de espírito desejado (acho mesmo que foram escolhidos a dedo, já que fazem tanto sentido, cada um no seu capítulo).
Realço o trabalho de Tradd Moore (nos anos 90 seria uma super estrela) e Mateus Santolouco pelo dinamismo e solidez de linha. Não achei nada de particularmente espectacular em Morgan Jeske. Os restantes são, bem, competentes. Em relação às cores, há duas palavras que são sinónimo de qualidade: Jordie Bellaire.


"Zero" não será para todos, especialmente para os perfeccionistas da leitura que querem um conteúdo consistente visualmente e claríssimo numa primeira abordagem. O livro quase que funciona mais como uma antologia de histórias que parecem tenuamente interligadas, mas as batidas que se repetem em cada um dos episódios que culminam naquele fim são inegavelmente um plano, um plano cujo objectivo final só Aleš Kot sabe.

12 de Janeiro de 2018

"I never had a chance."
JUDAS #1 (of 4)
Jeff Loveness & Jakub Rebelka
BOOM! Studios, 2017
24 págs., tetracromia, floppy


Deus tudo é e tudo sabe. Este conceito sempre me fez confusão, se deus sabe o resultado de todas as nossas acções, porque temos de passar pela vida para sermos julgados? Os crentes argumentam que é o que nos diferencia das outras criações, a auto-determinação, mas tendo em conta as características divinas, haverá tal coisa?

Enforcado numa figueira por 30 moedas de prata. O maior traidor da História humana. "Seu Judas!"
Uma das figuras mais reconhecidas da Bíblia, será Judas o menos compreendido?

O primeiro número de "Judas" (escrito por Loveness) explora precisamente estas ideias. A história de Judas não termina com um corpo pendente, há vida para além da morte de um traidor. Há uma missão e é essa missão que fica para descobrir no próximo número.

Já viram aquela capa? O miolo do fascículo é exactamente igual, eye candy puro. Não conhecia o polaco Jakub Rebelka mas está na altura de o acompanhar.

Este primeiro número promete e tendo em conta que tenho subscrição da mini-série de 4 números, em breve (daqui a 4 meses) digo-vos como correu.

8 de Janeiro de 2018

"Just looking for my head."
HEAD LOPPER, VOL. 1: THE ISLAND OR A PLAGUE OF BEASTS
Andrew MacLean & Mike Spicer
Image Comics, 2016
280 págs., tetracromia, capa mole


"Head Lopper é o Conan do século XXI." - disse alguém, algures, posso ter sido eu. Pronto, fui eu.
Andrew MacLean conseguiu, fruto do seu trabalho, trazer o seu éxito independente, financiado no Kickstarter, ao mainstream (há quem alegue que a Image Comics é independente, mas confundem o conteúdo com o continente) do comic americano.

"Head Lopper" é protagonizado por Norgal, um guerreiro  viking hipertrofiado (haverá outro tipo de bárbaro?) que traz na mão mais uma espada desproporcional e às suas costas a cabeça da bruxa azul Agatha, que, miraculosamente e infelizmente para Norgal, está viva e nunca se cala. Norgal explora neste volume a ilha Barra e numa série de pequenas missões faz jus ao seu epíteto: há, efectivamente, inúmeras decapitações e nem é preciso que o oponente esteja vivo ou seja humano.

Não há muito mais a dizer em termo de enredo, são explorados temas muito batidos da fantasia, o passado de Norgal é ignorado de forma exemplar, tocado de forma extremamente superficial. Na verdade, nada é dito sobre como chegou ao lugar da narrativa ou até o significado de andar com a cabeça de uma bruxa atracada a si. 
Julgo ser esse mesmo o propósito de MacLean, divertir-se e aos outros (a Agatha é a pérola deste livro, carismática, de onde deriva a maioria do humor e, incrivelmente, com muito poucos insucessos nessa área) e mostrar que tudo o resto é acessório (não é algo que me seja particularmente atraente, espero que venha desenvolver a personagem no futuro).

Se em termos de escrita o gosto pela a fantasia heróica é clara - é homenagem e algum pastiche -, mais ainda reconhecíveis são as suas influências artísticas.

"MacLean tem um estilo que é uma mistura de Mike Mignola com Michael Avon Oeming" - disse alguém, algures. Desta feita não fui eu. Acho que li no Goodreads, vão à procura, não posso fazer tudo por vós.
Quando vi pela primeira vez a arte de MacLean, o Mignola nele saltou-me logo à vista (evitei habilmente a cegueira), nem pensei no Oeming (não é alguém que admire ou em quem sequer pense. Já o Mignola é tão dreamy...). Há o traço e a colocação dos negros que denunciam a importância do criador de Hellboy na formação artística de MacLean.
O que mais gostei de ver neste volume foi a evolução no desenho que se tornou mais seguro e sólido com o passar dos capítulos, claramente a partir do terceiro, também colorido por MacLean, e ver o autor crescer e criar um estilo seu mas ainda familiar. Suspeito que será um artista bem diferente no fim do próximo volume.

"Head Lopper" é uma leitura irmã de "Rumble". Com os seus protagonistas de parcas palavras, as suas espadas gigantes e  as suas monstruosidades decapitáveis, ocupam o mesmo nicho de formas ligeiramente diferentes. Se houver interesse por um, haverá pelo outro.

5 de Janeiro de 2018

"He's your dad. He'll forgive you."
NIGHT FISHER
R. Kikuo Johnson
Fantagraphics Books, 2005
144 págs., P&B, capa mole


R. Kikuo Johnson é um dos meus ilustradores favoritos. A sua economia de linha (clara), as cores harmoniosas e o subtexto presente nas suas ilustrações para o New Yorker colocam-no, na minha opinião, num patamar superior de excelência.
Antes do seu sucesso no mundo da ilustração, ele vagueava por um terreno mais corriqueiro - o da bd.
"Night Fisher" é a sua primeira média (mais tarde, faria "The Shark King" para a Toon Books de Françoise Mouly, dirigido a um público mais infantil) e é influenciado pela sua vivência enquanto adolescente no Hawaii.

Loren Foster é um jovem de Boston que veio por arrasto com o pai viver na ilha do Maui. Esta oportunidade permitiu aos Fosters terem uma vida melhor: um salário mais avultado para o pai, uma casa enorme com um jardim indomável e permite a Loren frequentar uma escola de reputação. Loren é um excelente aluno, solitário e tranquilo, mas ultimamente as suas questões em relação à importância das coisas está a distanciá-lo dos seus (e dos outros) objectivos. A sua relação instável com Shane - o seu único amigo -, um rebelde transgressor, acaba por fazê-lo envolver-se com um grupo de má índole, experimentar drogas e numa espiral lenta a vida de Loren começa a desenlaçar.

O traço de Johnson é simples e bonito, evidenciado pela escolha do preto e branco, adivinhando-se já o seu talento inegável. Claro que numa primeira obra, há algumas escolhas que ainda revelam alguma inexperiência, especialmente na colocação dos negros e alguma instabilidade e inconsistência de linha.
O enredo em si é apelativo, as minhas dúvidas em relação ao comportamento adolescente baseado em estereótipos de "No Mercy" não se repetem aqui (em retrospectiva poderá ter a ver com identificar a minha experiência mais nesta descrição), as interacções entre as personagens parecem naturais e plausíveis e conseguimos compreender o comportamento de Loren e empatizar com ele. As personagens secundárias não são tão bem desenvolvidas mas apresentam alguma complexidade e mistério (especialmente Shane e o pai de Loren).
Outro realce para o design do livro que é muito bem realizado e chamativo, as ilustrações mais elaboradas que vão ponteando os capítulos são deslumbrantes.

"Night Fisher" é um primeiro livro interessante, um relato realista de um período de tempo de experimentação e conflito, bem feito e esteticamente aprazível ( é bonito, porra!). Uma óptima estreia de R. Kikuo Johnson que me faz suspirar por toda a bd que ele não fez.

3 de Janeiro de 2018

"I never thought out adventure would end here"
NO MERCY, VOL. 1
Alex de Campi, Carla Speed McNeil & Jenn Manley Lee
Image Comics, 2015
120 págs., tetracromia, capa mole


Eu comprei o primeiro número de "No Mercy" em floppy e ainda não tinha lido nada assim. Um grupo de estudantes americanos do secundário foram em visita de estudo a Mataguey com o objectivo de construir uma escola - fica sempre bem num currículo de candidatura ao ensino superior, retorque Lily, a mais vocal das personagens naquelas primeiras páginas.
A interacção dos adolescentes era credível e, se bem que  dependente de alguns estereótipos, engraçada. A história começa a estabelecer no leitor a famosa "falsa sensação de segurança" e depois o status quo é destroçado violenta e brutalmente.
É precisamente nesta brutalidade que reside o ponto mais forte da história, que converte o relato da vivência adolescente num de sobrevivência e relacionamentos humanos em condições de stress extremo: desde o abuso ao preconceito à perda do melhor amigo para uma matilha de coiotes(!).

A minha principal dificuldade foi digerir os emoticons e as referências a uma contemporaneidade que não acredito ser vivida pelos adolescentes como é retratada nesta bd. Há alguns problemas também com o ritmo da narrativa, que não parece fluir tão bem como devia, penso que poderia melhorar se fosse possível intercalar o tempo presente com a história pregressa das personagens (mas suspeito que seja influência do fã de "Lost" em mim).
Portanto, abordado o trabalho de Alex de Campi, passo agora a Carla Speed McNeil que, sendo muito sincero, sei ser melhor desenhadora. Não há uma consistência de estilo de traço e, mais notoriamente, de proporções. É pena, porque o seu trabalho no seu projeto pessoal - "Finder" - está a léguas em termos de qualidade e "No Mercy" perde também um pouco pelo seu aspecto pouco trabalhado e tentativamente redimido pelas cores de Jenn Manley Lee.
Há, no entanto, momentos de grande eficácia narrativa, especificamente os que dependem do contraste entre as duas realidades do livro (p.e., as memórias de infância de Tiffani invadidas pelas varejeira do presente).

Resumindo, "No Mercy" desiludiu-me, especialmente após a promessa daquele primeiro número dos fascículos que praticamente me obrigou a comprar este primeiro volume.
Não é, seguramente, um "Teen Lost", mas também não tem de ser.

2 de Janeiro de 2018

"What variety of emptiness is this?"
RUMBLE, VOL. 1: WHAT COLOR OF DARKNESS
John Arcudi, James Harren & Dave Stewart
Image Comics, 2015
144 págs., tetracromia, capa mole


A colaboração prévia de Arcudi e Harren em B.P.R.D. é o perfeito prelúdio para Rumble.
O universo periférico do Hellboy de Mike Mignola, repleto de monstros e acção é, em si, muito semelhante ao que decorre neste primeiro volume, só há que fazer a substituição da melancolia mignoliana por um entusiasmo explosivo.

Rathraq é um guerreiro da antiguidade, responsabilizado por proteger o processo natural de transição do domínio da Terra. Ele fá-lo como o sabe fazer: munido de uma espada desproporcionalmente grande e com o seu fiel companheiro canino combate agressivamente os antagonistas da mudança. Eventualmente é traído, capturado e agrilhoado, sentenciado erradamente a milénios de prisão.
Fast forward para os tempos modernos e conhecemos Bobby, um zé que trabalha num bar, cuja mediocridade é das suas principais características, entre não ter ambição ou sorte no amor. Bobby vê-se de repente envolvido numa série de eventos que nada têm a ver com o seu quotidiano urbano e é projectado para uma existência onde demónios, espantalhos falantes e até uma miúda gira e inteligente fazem parte do seu dia-a-dia.

A sensação que tiro de uma primeira leitura de Rumble é que James Harren é um dínamo. A arte hipercinética, exagerada e pormenorizada traz uma energia que já não é tão comum na bd de acção actual - caracterizada por um realismo fotográfico sonolento.
John Arcudi parece - parece - estar em segundo plano, a refrear Harren, a diminuir o ritmo da bd tempo suficiente para contar uma história. Afinal já são anos disto, de contar épicos com personagens impossíveis e monstruosidades apocalípticas.

Sendo assim, não esperem revelações capazes de mudar a vossa perspectiva sobre a vida, não é sobre isso que Rumble se debruça. Contudo, se quiserem algo divertido, movimentado e francamente (horrivelmente será o advérbio mais correcto) bonito, Rumble é para vós.

5 de Dezembro de 2016

"Dear God, dear God, tinkle tinkle hoy!"
Goodnight Punpun Omnibus, Vol. 1
Inio Asano
Viz Media, 2016
448 págs., P&B, capa mole

A memória da nossa infância é irreal. É uma manta de retalhos de nostalgia e fantasia. É impossível reviver o passado e mesmo saber o que sentimos na altura em que as coisas aconteceram.
O mundo de Punpun é assim, tem uma base nostálgica e inocente, uma infância vivida de brincadeiras com os nossos amigos e da descoberta do amor pueril.
Infelizmente para Punpun (felizmente? para o leitor), a sua infância não representa um ideal romântico. A normalidade é constantemente agredida, por vezes literalmente, pelos desejos adultos, pelos desejos dos adultos, por essa bizarria que é a realidade irreal.
Punpun é um menino-pássaro que se apaixona por Aiko, recém-chegada à sua turma, e a quem declara amor eterno até não conseguir cumprir o prometido - como um adulto. A sua vida familiar disfuncional, caracterizada pelas discussões dos pais culmina violentamente numa ruptura com o status quo domiciliário. Mesmo os seus primeiros encontros com uma sexualidade precoce e natural são pervertidos pelo irracional e homicida.
É este constante romper com o que devia ser o caminho natural da infância que fazem de "Goodnight Punpun" uma obra excepcionalmente adulta. Se até há subjacente à narrativa uma melancolia, é precisamente isso, um sentimento de tristeza e pesar agridoce.
Num mundo onde Deus responde mas não dá respostas, uma criança só consegue dar sentido às coisas se houver algum sentido nelas. Mas não há.

12 de Agosto de 2016

"That's not an asteroid."
THE DARK NOTHING
Jordan Crane
275 Booklets, 2015
24 págs., dicromia, floppy


Induzido pelo título, estava à espera de reflexões filosóficas profundas e quando começo a ler, deparo-me com uma obra de ficção científica pura.
Após um ano e meio de animação suspensa, três astronautas de diferentes origens alcançam finalmente o seu objectivo: são responsáveis pelos preparativos para uma expedição mineira ao espaço entre Júpiter e Marte. Ao atracar num artefacto peculiar - um planetóide que não o é -, depararem-se com dificuldades técnicas que, inevitavelmente, acabam em tragédia.
Uma história simples, bem delineada, "The Dark Nothing" é ficção científica clássica, fundamentada em alguns conceitos simples mas sólidos, que explora o confronto da espécie humana com o desconhecido.
Jordan Crane tem um estilo de desenho muito indie, solto e redondo, e é capaz de representar determinadas situações típicas deste género de uma forma engraçada, nomeadamente, as falhas de comunicação rádio que normalmente prenunciam desfechos menos bons (embora, neste caso, seja um red herring).
Este livro foi comprado o ano passado, juntamente com outros à venda na página de what things do (começa a tornar-se tradição), e parece que será desenvolvido no seu mais recente número de "Uptight", de acordo com a capa do mesmo. Mas Crane já me enganou com este, por isso, porque deveria eu supor o que quer que seja?