30 de Julho de 2014

"Our families don't understand."
LAZARUS, VOL.1: FAMILY
Greg Rucka & Michael Lark
Image Comics, 2013
96 págs., tetracromia, digital

A sociedade está dividida em diferentes castas e tu pertences a uma das famílias que a controla. O teu papel é proteger a tua família a todo o custo, és um Lázaro e nem a morte te pode impedir de cumprir a tua missão.
Assim é a vida de Forever "Eve" Carlyle, a protagonista de "Lazarus", o épico de Greg Rucka e Michael Lark que explora, como toda a boa ficção científica, assuntos actuais num contexto diferente (seja o futuro ou uma realidade alternativa ou outra coisa qualquer).
A família Carlyle é influente porque é proprietária de uma determinada espécie de gramínea que alimenta a população. Este tipo de situação, infelizmente, já acontece nos Estados Unidos, onde o perfil genético de sementes modificadas pelas grandes corporações é alvo de patente e permite-lhes processar agricultores cujas plantações possam ter plantas fruto de polinização cruzada "não autorizada".
Este tipo de controlo é levado a outro extremo em "Lazarus" com a manipulação genética de seres humanos. Eve é produto do patriarca Carlyle que a "encomendou" segundo directrizes muito específicas. A sua relação com a família é de subserviência, ela obedece sem questionar. É perfeita para a sua função, só não é perfeita para se amar. É um objecto.
Todos os Carlyle têm duas coisas em comum: querem poder e são capazes de tudo para o ter; subestimam Eve e vão arrepender-se amargamente por tê-lo feito. É que Eve descobriu o segredo familiar que a envolvia e agora começa o prestar de contas.
"Lazarus" é uma excelente história sobre "nature versus nurture", sobre o que nos é inato e o que nos é ensinado. Eve foi criada para algo mas isso não a impede de se questionar sobre as suas acções (como após a primeira sequência), apesar da mão de ferro do seu "pai". Mais ainda se vê na sua interacção com Joacquim, o seu homólogo na família Morray, uma de desejo de intimidade ou de passado partilhado - completamente contra a etiqueta interfamiliar.
Esta nossa capacidade de questionar as regras e optar por um caminho próprio é um desafio essencial para o nosso desenvolvimento como seres humanos e uma das ideias centrais desta bd. Não sei se o livro será tanto sobre o renunciar como sobre o descobrir as nossas verdadeiras origens, para isso terei de ler o segundo volume.
Hoje não falo nem sobre a escrita, nem sobre o desenho, nem sobre mais nada. Aconselho só a ler.

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