5 de Novembro de 2014


DOOMBOY
Tony Sandoval
Magnetic Press, 2014
136 págs., tetracromia, digital

Este ano, em Junho, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja foi lançado o tomo As Serpentes de Água pela Kingpin Books
Ao contrário do habitual das edições portuguesas de autores estrangeiros, Tony Sandoval, o autor, esteve presente. Para minha infelicidade, eu não.
Já conhecia Sandoval das minhas idas ao DeviantArt mas só de relance e sem grande interesse. A leitura do seu mais recente trabalho - Doomboy, publicado pela desconhecida (pelo menos para mim) Magnetic Press - fez-me perceber o infortúnio de não ter ido ao FIBDB.
Doomboy é sobre D. que, após uma grande perda, consegue expressar o seu sofrimento através da música.
D. é um jovem adepto do Metal que não parece ter outro tipo de ocupação para além de frequentar concertos de garagem com alguns amigos.
Sandoval tem um conhecimento muito próximo deste tipo de situação, segundo a sua biografia, no fim do livro, a bd e o Metal são os seus grandes interesses mas embora a história tenha esse cenário preferencial, Doomboy é menos sobre a cena metaleira e mais sobre lidar com o luto e com as emoções associadas à morte de alguém que nos é querido.
A caracterização da personagem principal é algo redutora se pensarmos que pouco sabemos sobre D. mas o seu conflito emocional é muito bem explorado e é fácil empatizar com a personagem.
Mais que Doomboy, esta bd depende muito do elenco. Os amigos e conhecidos de D. têm, por vezes, uma personalidade mais desenvolvida que o protagonista e se alguns podiam muito bem cair no estereótipo, a verdade é que Sandoval habilmente evita o recurso fácil ao cliché e cria pequenos "momentos verdadeiros".
Ajuda imenso à leitura a atmosfera bem conseguida pela arte etérea de Sandoval e pelas suas representações lovecraftianas que amplificam os sentimentos expressados de forma, muitas vezes literalmente, épica.
Um ponto mais subtil do livro é o seu ritmo. Tony Sandoval é um cartunista exímio, particularmente no regular do andamento da história e na representação do tempo, há vários momentos na leitura que fluem muito naturalmente e, acima de tudo, inteligentemente.
No fim do livro fica ainda indiciada a possibilidade de sequela e, neste leitor em particular, a vontade de a ler.
Aconselhado a que gosta de histórias mais focadas na exploração do mundo interior das personagens  que são acompanhadas por uma arte deslumbrante.

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