15 de Maio de 2022

MURDER FALCON
Daniel Warren Johnson & Mike Spicer
Image Comics, 2019
208 págs., tetracromia, capa mole

No ano longínquo de 2018, li o primeiro número da minissérie "Murder Falcon" de Daniel Warren Johnson (argumento e desenho) e Mike Spicer (cores) e senti que tinha um encanto saudosista - um falcão antropomórfico era energizado pelo poder do Heavy Metal para combater uma ameaça interdimensional - que lembrava as séries de animação dos anos 90 (quem passou a infância nessa década sabe do que falo). Acabei por comprar a colecção dos oito números e após 3 anos (2 deles não contam, ninguém se recorda do que fez na pandemia) finalmente li-a e, sim, aquelas primeiras 20 e tal páginas lidam bem com a essa energia - uma paródia bem feita do que nos fazem recordar.
O grande problema de "Murder Falcon" é que não se fica por aqui.
Aparentemente inspirado num episódio particular da vida de Johnson, a ideia da história era mostrar como quando temos algo que amamos na nossa vida, esse amor permite-nos ultrapassar os momentos mais difíceis. 
O protagonista Jake tem uma vida de isolamento após um momento trágico na sua vida e de repente vê a sua vida invadida por Murder Falcon que precisa que ele regresse às suas guitarradas para usar essa energia com fonte de poder no combate a monstros transdimensionais que invadiram a Terra. Com a ajuda de Murf (o seu apelido para Murder Falcon), Jake vai reatar laços perdidos e reencontrar a sua paixão pelo Metal. E é aqui que a história começa a falhar.
Falha porque sinto que não explora bem o suficiente as relações entre as personagens que acabam por surgir como um preâmbulo para a introdução de novas criaturas de proporções cada vez maiores numa sequência algo repetitiva até um confronto final pessoal entre Jake e o vilão da história. O que se passa é que o equilíbrio entre as cenas pessoais e o mundo sobrenatural apresentado está mal, err, equilibrado.
Para além de nos tentar fintar com vários red herrings, Johnson não consegue transmitir uma ideia mais aprofundada de quem são as personagens do livro. Sabemos o que gostam e parcialmente as suas dificuldades diárias mas a forma como as encaram é resumida em uma ou duas páginas inconsequentes antes de uma cena de acção. Murf é ligeiramente menos unidimensional que um pedaço de cartão, as outras personagens têm relevo mas é preciso incliná-las para que o sol lhes bata da forma mais correcta para nos apercebermos disso.
Dito isto, o ponto mais forte do livro é a sua arte. Johnson é conhecido pelo seu dinamismo e representação de movimento e este livro não é uma excepção e Spicer acrescenta uma paleta estrondosa com escolhas de cores vibrantes e, ao mesmo, tempo, harmoniosas.
Basicamente, um livro com potencial mas realizado de forma superficial (Já agora, li o "Beta Ray Bill" e senti o mesmo e nem vou falar de "Jurassic League"... Mas se gostaram deste, já têm o que ler.) - o que faz com que seja bastante fiel às séries de animação que me referia (Não recomendo vê-las novamente, mais vale que vivam no vale cor-de-rosa das nossas memórias de infância.).