30 de Julho de 2013

"i just can't deal with your drama anymore!"
LOSE #4
Michael DeForge
Koyama Press, 2012
44 págs., P&B

A obra de Michael DeForge é uma de estranho desconforto. As histórias que nos conta têm uma ligação ténue à nossa realidade, com uma lógica e atitudes muito próximas às nossas mas com diferenças bizarras, até grotescas, e completamente naturais. O nosso desconforto é o de quem sabe que há algo de errado nessa naturalidade mas não consegue apontar bem o quê.
Lose é a one-man anthology à laia dos autores independentes americanos dos anos 90 que DeForge começou em 2009. Este quarto número, auto-intitulado "The Fashion Issue", é uma mistura de estilos e formatos que representa bem o que DeForge tem vindo a desenvolver ao longo da sua curta mas muito produtiva carreira. Tangencialmente relacionadas com o tema, temos narrativas que: prestam homenagens distorcidas a outras personagens de bd ("Queen Video"); são sobre doenças que aos poucos substituem o corpo humano por um tecido muito semelhante à indumentária associada ao sadomasoquismo ("Someone I know") ou que fazem que toda a vida animal, humana ou não, tenha a cara de uma adolescente específica ("The Sixties"); exploram os hábitos e costumes da família real canadiana (Canadian Royalty: their lifestyles and fashions) e, finalmente, numa sucessão de tiras curtas falam, talvez, sobre auto-percepção ("Abbey Loafer").
A temática da transformação corporal e da auto-imagem e rebelião contra o que somos parecem atravessar todas as histórias. O que se destaca é precisamente a abordagem escolhida, nunca linear e, repito, algo desconfortável para o leitor. O estilo de desenho varia ao longo do livro e adapta-se a cada história, normalmente simplificado e imediato mas, por vezes, capaz de um pormenor obsessivo que, embora não acrescente muito ao enredo, ajuda à ambientação, contribuindo especialmente o seu excelente uso de contrastes.
DeForge é um nome que tenho ouvido incessantemente estes últimos anos, sempre pela positiva, seja pela crítica mais "séria", por outros autores que admiro ou devido às suas múltiplas nomeações para vários prémios de bd, para além de ser designer numa das minhas séries de animação favoritas - Adventure Time. Ele está à cabeça da nova leva de autores de bd independente norte-americana e parece-me ser uma posição merecida. Contudo, a verdade é que ainda não me convenceu completamente embora, à velocidade que produz material novo e também pela sua idade jovem, tenha mais do que tempo para o fazer.

18 de Julho de 2013

"Git! Or tonight I'll dine on goat stew!"
SABERTOOTH SWORDSMAN
Damon Gentry & Aaron Conley

Dark Horse Comics, 2013
99 págs., P&B

O mercado digital da bd está em crescendo e a Dark Horse não perdeu tempo e já tem a sua própria loja online com conteúdo exclusivo. Sabertooth Swordsman and the Mayhem of the Malevolent Mastodon Mathematician (título completo e nada aliterativo) é uma dessas bds que ainda este ano terá direito a ser publicada em toda a sua glória num formato físico de luxo. 
Trata-se da história típica do falhado tornado herói que enfrenta inúmeros perigos sobrenaturais para poder recuperar a sua amada das garras de um mal superior. Nada de novo, portanto.
Esta é a mais nova versão do herói  felino de turbante e sapatos pontiagudos criado pelo duo Damon Gentry e Aaron Conley que já tinham uma versão preliminar desta história que podem ler aqui. Desta vez, temos mais páginas,  um estilo gráfico mais refinado e a mesma acção trepidante e sentido de humor a tender para o absurdo. 
Apesar da história ser um pouco linear, as tiradas humorísticas e a acção explosiva acabam por nos conquistar e o desenho de Aaron Conley que, admito, não será para todos (especialmente a preto e branco), é pormenorizado e enérgico.
Sabertooth Swordsman é uma bd divertida que não quer fazer pensar e que surpreende ligeiramente pelo seu fim algo trágico mas que acaba por denunciar a esperança de serialização que, não duvido, será bem-sucedida. 
Se estiverem interessados podem encontrar os 6 volumes, no sítio da Dark Horse Digital, pela módica quantia de, aproximadamente, 4,52 euros.

15 de Julho de 2013

"This is how an idea becomes real."
SAGA VOLUME 1
Brian K. Vaughan & Fiona Staples
Image Comics, 2012
160 págs., tetracromia, capa mole

A segunda mais recente bd (em breve falarei de The Private Eye) de Brian K. Vaughan é uma space opera com traços shakespearianos. 
Na periferia da galáxia um planeta e a sua lua estão em guerra, dois soldados das facções opositoras apaixonam-se e têm uma filha, esta nova família vê-se perseguida por razões desconhecidas e esta é a história da sua fuga. Nem todos sobreviverão.
Mais uma aposta da Image Comics no terreno do Fantástico, desta vez não enveredamos pela ficção científica pura, a magia coexiste com a ciência neste universo, com naves espaciais lado a lado com personagens que têm a aparência de que podiam ter saído de um conto de fadas ou de um livro sobre mitologia greco-romana.
O principal atractivo do livro, contudo,  não se prende só no seu aspecto visual, embora o desenho de Fiona Staples, se à partida me parecia um pouco rígido (já dizia o poeta, "primeiro estranha-se, depois entranha-se"), dê imenso à narrativa e, ainda por cima, melhore com o tempo; são as personagens, melhor dizendo, as personalidades criadas por Vaughan que dão o brilho ao livro, especialmente os supostos vilões, e que fazem com que uma história com momentos surpreendentemente estranhos, até bizarros, sejam, também, surpreendentemente credíveis.