30 de Dezembro de 2014

Numa altura em que olhar para trás é tão importante como olhar para a frente, algumas listas (que por acaso achei interessantes e decidi colocar aqui) da melhor bd de 2014.
As  melhores Graphic Novels de 2014 de Rachel Cooke, no The Guardian.

Os 10 artistas que Zainab Akhtar apreciou em 2014 no seu blogue, Comics & Cola.

O top 10 das graphic novels de 2014 segundo Michael Cavna no The Washington Post.

A equipa do BDmétrique explica os seus top 5 de bd.

Sean Edgar da Paste Magazine com os seus 25 melhores comics de 2014.

As melhores graphic novels de Laura Miller no Salon.

As escolhas de Tim O'Neil e Oliver Sava no A.V. Club.

Rich Barrett divulga os seus 25 mais interessantes do ano.

John Dermot Woods e amigos sugerem 10 comics para se ler no Ano Novo.

A melhor bd de 2014 segundo a NPR.

Krutika Mallikarjuna do Buzzfeed.com anuncia os 11 comics "vitoriosos" de 2014.

Alberto García na Numerocero.es escreve sobre o ano de 2014 em bd. Em duas partes.

O crítico e historiador de bd Paul Gravett escolhe as suas favoritas do ano.

O pessoal do The Comics Journal não brinca.

Shea Hennum no site This is Infamous com os 20 melhores comics do ano.

A equipa de Blisstopic votou e estes são os resultados.

As escolhas de Nick Gazin da revista Vice.

Comic Con Portugal 2014


Vista da área comercial da Comic Con Portugal 2014

Aconteceu nos passados dias 4, 5 e 6 de Dezembro a primeira Comic Con Portugal, na Exponor. Ao longo do ano, a organização prometeu um evento de uma magnitude sem precedentes para o nosso país, o que, penso, foi conseguido com sucesso, apesar de ter os percalços que seriam esperados de uma primeira tentativa.

Tenho visto diversas queixas de pessoas que achavam que o evento foi pobre em relação à banda desenhada. Aliás, logo após o painel da Pia Guerra e do Ian Boothby na sexta-feira, fui abordada por uma jornalista que me fez algumas perguntas sobre a minha opinião do evento. Quando manifestei a minha opinião positiva, ela disse-me que achava que a programação de banda desenhada deixava muito a desejar, e perguntou-me se concordava. A verdade é que não, não concordo. Admito que para outras pessoas, ter a Pia Guerra, o Brian K. Vaughan e o Marcos Martín juntos no mesmo evento, a assinar autógrafos e num painel, seja algo de pouca importância. Talvez não tenham lido Y: The Last Man e Private Eye, ou talvez o Saga (uma das bandas desenhadas mais premiadas dos últimos anos) lhes tenha passado ao lado. Talvez não conheçam o Ian Boothby, que já escreveu mais comics dos Simpsons que qualquer outro escritor. Talvez dêem pouca importância ao trabalho extenso do Carlos Pacheco com super-heróis como os Avengers, Superman, Green Lantern ou X-Men, e ao do Javier Rodriguez com o Daredevil ou Spider-Man. Se calhar nunca ouviram falar do Miguelanxo Prado ou do Carlos Castellini. Provavelmente já viram muitas vezes o Ricardo Cabral, a Joana Afonso, o Jorge Coelho, o Ricardo Drummond, o Daniel Henriques, e artistas do Lisbon Studio. Para fãs de banda desenhada que não se revêem nestas atitudes, a Comic Con Portugal foi um excelente evento.


Mas vamos por partes.



Painel com Pia Guerra e Ian Boothby

O primeiro dia começou no metro, a caminho da Exponor, quando me deparei com um cosplay quase perfeito de Lulu, da League of Legends. Por ser um dia da semana, os transportes públicos não falharam (mais sobre isto no fundo da página, na parte dos pontos negativos). O recinto não encheu e o ambiente era calmo. O primeiro painel de banda desenhada a que assisti foi o da Pia Guerra e do Ian Boothby, acabados de chegar do Canadá. O moderador rapidamente abriu a participação a membros do público, o que tornou a conversa uma experiência descontraída, pessoal e divertida. Os autores revelaram-se de grande simpatia e sentido de humor, e terminado o painel, praticamente toda a gente que estava no público seguiu-os para o local de autógrafos. Aqui, Ian Boothby assinou bastantes livros de banda desenhada dos Simpsons, mas a fila foi maior para a Pia Guerra, que ainda assim personalizou os autógrafos com pequenos desenhos e tirou fotografias com quem pedia.

Sessão de autógrafos de Pia Guerra e Ian Boothby

O caminho entre o Auditório Comics e o local de autógrafos estava preenchido com uma exposição de prints da banda desenhada online The Private Eye, dos convidados Brian K. Vaughan e Marcos Martín. Infelizmente, esta exposição quase não merecia esse nome. É sem dúvida algo que poderia ser melhorado para ter o impacto que a ExpoSyFy (mais sobre ela mais à frente) teve. Logo a seguir encontrava-se a Artists' Alley, onde dezenas de artistas expuseram e venderam os seus trabalhos, para além de ser possível vê-los a trabalhar e pedir trabalhos personalizados. A qualidade e diversidade das obras, bem como os preços acessíveis e a possibilidade de conversar com o artista, fez com que, para mim, esta área se tornasse o ponto alto do evento, e uma prova de que o que temos em Portugal ao nível de arte de banda desenhada pode perfeitamente competir internacionalmente em termos de qualidade.

Artists' Alley

O dia continuou com os painéis e autógrafos do Filipe Melo e Juan Cavia, Lisbon Studio, Banzai, Ricardo Cabral, Carlos Pacheco e Javier Rodríguez, e Luis Magalhães. Entretanto, deixei a banda desenhada para me juntar à fila de autógrafos da Morena Baccarin (Firefly, V, Homeland, e agora Gotham). De notar o facto de que os autógrafos não foram pagos, como acontece noutras Comic Cons, e a actriz ofereceu uma fotografia com dedicatória a cada pessoa na fila. O actor Paul Blackthorne (Arrow, The Dresden Files) foi (pelo que assisti) o único que aceitou tirar selfies durante os autógrafos, para além de distribuir abraços durante os três dias da Con.

Gostaria ainda de referir o Portfolio Review que, aparentemente, teve a participação de Randy Stradley (Dark Horse Comics), Gregory Lockard (Vertigo Comics) e Mário Freitas (Kingpin Books). Uma vez que não participei nem conheço quem tenha participado, não posso comentar acerca do seu sucesso, mas é uma iniciativa de louvar.

Parte inicial da fila para entrar na Comic Con (sábado)

O segundo dia foi bastante mais confuso do que o primeiro devido à multidão que encheu o recinto, criando o caos de que muita gente se queixou nas redes sociais. Pessoalmente, era algo de que estava à espera, tendo em conta eventos análogos; ainda assim, é possível melhorar o sistema de admissão de bilhetes nos próximo anos, algo que tenho a certeza que a organização irá ter em conta. Para quem, como eu, tinha uma pulseira do dia anterior, a entrada foi rápida e fácil, mas quem tinha o bilhete do dia esperou no mínimo uma hora na fila para entrar. A grande atracção do dia foi o painel (e autógrafos) da Natalie Dormer (Tudors, Game of Thrones, The Hunger Games: Mockingjay), que foi tão concorrido que nem sequer tentei assistir. Amigos que foram disseram que o painel foi excelente (aparentemente com alguns comentários sexistas a que Natalie respondeu com inteligência e dignidade), mas os autógrafos foram uma confusão. Quando passei por lá, era bastante óbvio que, ao contrário do que tinha acontecido com outros actores, a fila não estava a ser respeitada, e não havia qualquer controlo para impedir fura-filas. Infelizmente, falta de civismo é algo que está para além do controlo da organização, mas certamente algo poderá ser feito para melhorar a experiência, talvez com um sistema de senhas ligado ao código de barras na pulseira de cada visitante, para ter a certeza de que não há gente a aproveitar-se.

Sessão de autógrafos com Brian K. Vaughan

Através de conversas com conhecidos que participaram na Comic Con como vendedores, a multidão traduziu-se num volume de vendas mais elevado do que o esperado, com algumas lojas a esgotarem o stock ao fim do segundo dia (recomendo a leitura dos posts do blog aCalopsia dedicados ao tema). Vi imensa gente a comprar banda desenhada dos autores presentes para depois se dirigirem à zona de autógrafos, que esteve sempre apresentável, embora bastante mais pequena do que a fila para os actores. A excepção foi a fila de autógrafos para o Brian K. Vaughan, que no sábado assinou ao mesmo tempo que Carlos Pacheco, Javier Rodríguez e Marcos Martín (aqui se vê uma das desvantagens das bandas desenhadas digitais: a impossibilidade de conseguir um Private Eye assinado pelos autores), e cuja fila rivalizou a dos autógrafos de actores. No entanto, a extensa fila não se traduziu em longas esperas pois Brian K. Vaughan era o único dos convidados de BD que apenas escreve. As restantes filas, apesar de mais curtas, implicaram frequentemente esperas mais longas quando os artistas decidiam acompanhar a assinatura com desenhos.

Marcha imperial da 501st Legion

O Auditório Comics encheu no sábado com o concurso Heróis do Cosplay. Apesar de não ter assistido devido ao esgotamento de lugares, a qualidade e variedade de cosplays que vi durante o dia leva-me a crer que esta parte do evento foi um sucesso. As fotografias que tirei não fazem justiça aos cosplay, pelo que vos convido a visitarem a galeria de fotos do blog Lytherus, bastante completa e com fotografias de qualidade. De mencionar também a 501st Legion, grupo internacional de cosplay de Star Wars, que estiveram presentes com cosplays praticamente perfeitos de stormtroopers, bounty hunters, Darth Vader, Slave Princess Leia, Emperor Palpatine e Jawas. Estavam sempre disponíveis para fotografias e pequenos jogos. De vez em quando, ouvia-se a marcha imperial ecoar pelo recinto, e apareciam os membros da 501st Legion a marchar pelo evento em formação, para terminar num photo-op no hall perto da saída.

Painel Da Vinci's Demons

O terceiro dia, de afluência mais modesta que no dia anterior, foi marcado por diversos painéis de actores. Da série Da Vinci’s Demons, Tom Riley, Blake Ritson e Elliot Cowan foram acolhidos com entusiasmo (por vezes a roçar a histeria), e revelaram-se disponíveis, simpáticos e divertidos. A conversa que se gerou à volta das questões do público focou-se em diversos pormenores das experiências dos actores nas filmagens, e a audiência teve a oportunidade de assistir a um trailer exclusivo da terceira época da série, que irá estrear em breve.

Também presente esteve Clive Standen, da série Vikings, do Canal História. Não estive presente neste painel, mas a Telma, do blog Ler e Reflectir, esteve lá e tem isto a dizer: “Clive Standen falou um pouco sobre como foi crescer ao lado da floresta de Sherwood (imortalizada por Robin Hood) e o quanto isso contribuiu para enveredar por uma carreira de actor. O actor não poupou elogios nosso país, no qual tinha andado a passear com a família nos últimos dias e confessou ser um verdadeiro geek e que por isso mesmo adorava a experiência de ir a Comic-Cons. Respondeu às perguntas dos fãs sobre a série e como é ser actor, mencionando alguns trabalhos passados em que participou até ao casting para este papel, que lhe trouxe mais fama, após recusar entrar em "Spartacus”."

E, finalmente, tivemos o painel de Paul Blackthorne das séries The Dresden Files e Arrow, que, como já foi mencionado, durante os três dias se mostrou incansável a dar autógrafos e tirar fotografias com os fãs.

Painel com Brian K. Vaughan, Pia Guerra e Marcos Martín

O painel que os fãs de banda desenhada não podiam perder era o de Brian K. Vaughan, Pia Guerra e Marcos Martín. Como esperado, falou-se imenso de Y: The Last Man, The Private Eye e Saga. Em resposta a perguntas do público, os autores discutiram a popular transformação da banda desenhada em cinema e televisão, com Brian K. Vaughan a lamentar que essa adaptação seja vista como a melhor coisa que pode acontecer a uma série de banda desenhada, que na sua opinião deveria valer por si mesma, em vez de aspirar a outro meio. Falou-se também de novos meios de produção e distribuição de comics e o impacto que têm não só no consumidor, mas também nos artistas e escritores. Todos os autores deram pistas sobre novos trabalhos que estão a desenvolver e sobre os quais ainda não podem falar abertamente.

Painel com Joe Reitman

O último painel a que assisti foi o de Joe Reitman, actor, realizador e a cara da Comic Con Portugal durante o ano de preparação para o evento. Num painel que se revelou descontraído e divertido, Joe Reitman falou dos desafios com que a organização se deparou na tentativa de fazer um evento inaugural, mencionando que diversos actores e artistas com que falou se mostraram relutantes por ele não lhes poder dar qualquer garantia da qualidade e sucesso do evento, e que isso iria mudar no ano seguinte pois poderia apresentar provas de que a Comic Con Portugal é um evento de sucesso. Seguiram-se diversas sugestões de nomes de convidados da parte do público (umas mais realistas do que outras), com Joe Reitman convidando as pessoas a enviarem-lhe mensagens pela internet a dizerem quem gostariam de ver para o ano.

Alguns dos objectos em exposição na ExpoSyFy

A ExpoSyFy foi outro ponto alto do evento, e apesar de, juntamente com a Walking Dead Blood Store, estar situada num local estranho (era logo após a saída, pelo que implicava sairmos do evento para a visitarmos), no sábado e domingo teve sempre fila para entrar. A selecção de adereços era extensa e para todos os gostos. Apesar de grande parte das peças serem réplicas (o que, já dizia Walter Benjamin, retira sempre alguma da mística ao objecto), podíamos ver peças originais suficientes para satisfazer qualquer geek do cinema, como por exemplo a máscara de The Mask ou a espada Uruk-Hai de Lord of the Rings.

Walker liderado por uma Gryffindor

Por fim, gostaria de mencionar os Walkers. A série Walking Dead marcou presença com o actor Seth Gilliam, mas as grandes estrelas do evento foram sem dúvida os actores (presumo) transformados em zombies que deambulavam pelo evento, a atacar e assustar as pessoas. Os visitantes podiam “alugar” um Walker (gratuitamente) e levá-lo por uma corda pelo recinto (como a Michonne faz na banda desenhada e série de televisão). Confesso que fiquei surpreendida com a dedicação dos actores ao seu papel, pois em nenhuma altura vi nenhum deles a sair da personagem. Três dias inteiros cobertos de maquilhagem, com expressão e olhar de moribundos, a arrastar as pernas e a serem guiados por pessoas com uma corda. Contribuíram imenso para o ambiente da convenção, e por isso estão de parabéns.

Houve pontos negativos? Claro. O comentário mais negativo que tenho é em relação a algo que não foi da total responsabilidade da organização da Comic Con Portugal: os transportes públicos para chegar à Exponor. Não há outra maneira de dizer isto: a STCP esteve muito mal. Quem vive no Porto sabe que ultimamente a rede de autocarros tem tido imensas falhas, desde atrasos de mais de uma hora a autocarros que simplesmente não aparecem. Não estava à espera de que essas coisas acontecessem durante um evento desta dimensão, tendo a organização avisado a STCP da quantidade de bilhetes que tinham vendido (esta informação foi-me dada por um dos expositores que tinham conversado com a organização acerca deste problema). Para quem não tinha carro, chegar à Exponor durante o fim-de-semana foi uma tormenta. 

Para além desse ponto, não fiquei muito impressionada com os voluntários. Estavam por todo o lado e, sinceramente, não se percebia muito bem a fazer o quê. Já fui voluntária em diversos eventos e sei como pode ser difícil responder a todas as dúvidas dos visitantes (que frequentemente tratam os voluntários como se fossem responsáveis pelo que se está a passar, o que é triste quando se está a trabalhar de graça para outrém), mas se consigo entender o facto de não se saber uma resposta, não consigo compreender como é possível não se saber a quem perguntar para descobrir. A excepção foram os voluntários dos autógrafos de autores de banda desenhada, que estavam todos bem informados, organizaram bem as filas, e quando não sabiam a resposta a alguma pergunta dirigiam-se imediatamente a quem sabia e voltavam com uma resposta. Para além do que se mostraram sempre atenciosos e disponíveis quando alguém pedia para tirar uma fotografia com um autor. Por isso, fica aqui o meu agradecimento.

Pessoalmente, as partes negativas foram pormenores comparadas com a experiência positiva que tive do evento, de tal modo que, se pusessem os bilhetes à venda amanhã, eu comprava antes mesmo de saber quem vai. Os convidados são um dos factores de sucesso de qualquer convenção, e nesse aspecto a Comic Con Portugal não falhou, mas aquilo que me surpreendeu e de que mais gostei foi o ambiente de camaradagem geek, o ajuntamento de milhares de pessoas em torno de interesses e paixões que são (ainda) muitas vezes gozadas e olhadas de lado pela sociedade em geral. Vi essa diferença nos olhos de quem observava os cosplayers: no metro, os olhares eram de curiosidade, estupefação, gozo e escárnio; no recinto da Comic Con Portugal, de admiração e alegria. Talvez seja esse ambiente a parte mais importante da Comic Con.

17 de Novembro de 2014




Lamentamos informar que, devido a compromissos profissionais, a programação regular deste blogue será interrompida. Planeamos um regresso à normalidade no início de 2015.

16 de Novembro de 2014

"No, Nothing like Batman."
GOTHAM ACADEMY #1
Becky Cloonan, Brenden Fletcher & Karl Kerschl
DC Comics, 2014
32 págs., tetracromia, floppy

O universo do homem-morcego já sofreu inúmeras expansões - múltiplos títulos com Batman, outros tantos com personagens relacionadas como Robin ou Nightwing ou qualquer coisa que tenha uma ligação ténue com a personagem que mais vende na DC Comics.
Gotham Academy é, se calhar, o título mais periférico da família morcego, tendo sido descrito como uma espécie de Hogwarts na cidade natal de Bruce Wayne.
A equipa criativa por  detrás deste título era prometedora (Becky Cloonan, Brenden Fletcher e Karl Kerschl já têm provas dadas) mas este primeiro número desaponta.
Primeiro, o enredo é praticamente inexistente, a narrativa foca-se principalmente na personagem de Olive (uma criatura torturada - beneficiar de uma bolsa de estudo numa escola de meninos ricos nunca corre bem - que tem um segredo que a mudou radicalmente e muito provavelmente relacionado com Batman) e nos seus monólogos interiores que sem revelar nada acabam por se tornar vagos e repetitivos.
A intenção óbvia de criar uma atmosfera de mistério com várias questões por responder, algo que muito me agrada numa história, não é bem concretizada principalmente devido à excessiva familiaridade dos conceitos abordados e a lentidão com que são explorados.
E como não podia deixar de ser, Bruce Wayne faz uma visita ao colégio, legitimando  esta introdução e ancorando-a de forma pouco subtil ao universo da DC Comics.
O desenho encontra-se algo simplificado comparado com o que Kerschl nos habituou, tem algumas afinidades com o estilo manga mas permanece "ocidental". Kerschl tenta, ainda, inovar em termos de layout de página mas estas inovações acabam por não alterar de forma substancial a leitura e são, na minha opinião, desnecessárias.
De qualquer forma, o aspecto visual acaba por ser o ponto mais forte do livro.
Concluindo, Gotham Academy tenta ser um título diferente no universo de Batman, optou por uma atmosfera e personagens pouco típicas e é ambicioso na sua expansão desse mundo mas acaba por não impressionar.

12 de Novembro de 2014

"How's the soup taste?"
CHEW, VOL.1: TASTER'S CHOICE
John Layman & Rob Guillory
Image Comics, 2009
128 págs., tetracromia, digital

Nem de propósito, a G. Floy publicou recentemente, em português, o primeiro volume de Chew, a história de um detective "diferente".
Tony Chu é um cibopata, ou seja, é capaz de ter a noção da história completa das coisas que ingere. Este seu poder tem grandes implicações na sua vida pessoal e profissional, muitas vezes tendo de pôr de parte a moralidade vigente e recorrer ao canibalismo para resolver casos mais difíceis.
Chu foi recrutado pela FDA (Food and Drugs Administration) para fazer parte de uma equipa especializada em crimes que envolvam comidas ilegais, como, por exemplo, carne de galinha, cujo consumo nesta realidade foi proibido após a gripe das aves.
Estranhamente, o único alimento imune ao seu dom é a beterraba.
Este tipo de situações bizarras é gerido de uma forma perita por John Layman que desenvolve uma narrativa empolgante desde o início do livro.
Layman tem precisamente como principal ponto forte o seu sentido de humor que se encontra num contínuo entre o absurdo e o nojento.
O elenco peculiar só faz com que a leitura seja ainda mais divertida, especialmente se tivermos em conta a interacção de Chu com o seu superior.
Para além desta vertente mais engraçada, Chew tem um à vontade com a introdução de  sub-enredos intrigantes que conferem à narrativa principal uma possibilidade de longevidade praticamente infinita. Cada novo capítulo introduz mais uma questão que, embora fique por resolver, acaba por não interferir com a narrativa central, muito pelo contrário, expande-a.
O desenho de Rob Guillory tem algo de desengonçado e estranho, esta idiossincrasia pode não ser do agrado de todos mas adapta-se intimamente ao ambiente da história, seja dos momentos mais sinistros  à hilaridade de uma piada estúpida.
Aquele primeiro momento que Chu prova a canja e tem a sua revelação é magistralmente representado por Guillory e talvez seja o melhor momento do livro.
Há algo na leitura de Chew que me faz pensar em Dog Mendonça e Pizzaboy, se calhar tem que ver com a semelhança física entre os protagonistas de cada livro ou mesmo entre os traços de Juan Cavia e Rob Guillory. Pode, também, e mais provavelmente, ser só impressão minha.
No fim de contas, este primeiro volume de Chew não tem como objectivo dar ao leitor a experiência de uma leitura completa mas sim um aguçar de apetite para o que aí vem.
É uma leitura que tem tudo a ver com o que eu considero entretenimento: tem piada e um excelente conceito a fundamentar uma história plena de potencialidades.
Uma óptima escolha da G. Floy no meio de outras óptimas escolhas que constituem esta sua nova fornada de títulos.

P.s.: Esta foi a última das bds incluídas no Humble Bundle da Image Comics. Foi uma longa e épica jornada mas finalmente acabou. 
Na verdade, já tinha lido este primeiro volume em revista mensal mas foi há tanto tempo que já não me lembrava bem do conteúdo, isso fez com que atrasasse cada vez mais esta leitura mas, agora, em retrospectiva, percebo que não fazia sentido essa hesitação, Chew lê-se muito bem uma segunda e, porventura, terceira vez.

November 9, 2014


DOOMBOY
Tony Sandoval
Magnetic Press, 2014
136 pages, cmyk, digital

This year, in June, at the Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (one of our dearest comics festivals), "As Serpentes de Água" (The Water Snakes) was released by our own Kingpin Books.
Unlike the usual portuguese editions of foreign authors, Tony Sandoval, the author, was present. To my misfortune, I was not.
I knew of Sandoval from my regular visits to DeviantArt, usually just for a quick look and without a great deal of interest. Reading his latest work - "Doomboy", published by the unknown (at least to me) Magnetic Press - made me realize the misfortune of not attending the FIBDB.
Doomboy is a story about how someone, after a great loss, can overcome grief through artistic means, in this case, music.
D. is a young man, known for his love of heavy metal, that seems to have no other occupation besides going to garageband concerts with his friends. Sandoval has a very intimate knowledge of this medium, since, according to his biography at the end of the book, comics and Metal are his major interests. 
But although a prefered scenario, Doomboy is less about the heavy metal scene and more about dealing with the pain and other emotions associated with the death of someone dear to us.
The characterization of the main character is something of a misnomer when you consider how little we know little about D., but his emotional conflict is well explored  and it is easy to empathize with.
More than D., this comic is dependent on its cast. Doomboy's friends and acquaintances are, at times, better developed characters than the protagonist and even when some of them could easily fall into stereotypical descriptions. The fact is that Sandoval skillfully avoids the easy recourse to cliché and is able to create some "real moments" in the narrative.
Another great  strength of the book is its atmosphere, the ethereal art and lovecraftian representations amplify the sentiments expressed to the point of them being, quite literally, epic.
A more subtle point is the pacing. Tony Sandoval is an accomplished cartoonist, particularly in how he manipulates space and time on the page. There are several moments that flow in an extremely natural way and, above all, in an intelligent way.
You finish the book with a sense of satisfaction and there's even a hint about a possible sequel that makes you eager for a continuation. A job well done.
If you like stories focused on the exploration of the inner world of the characters that are accompanied by stunning artwork, this is your book.

9 de Novembro de 2014


7 de Novembro de 2014

"One pig-knuckle sandwich comin' up!"
AMAZING SPIDER-MAN #9 (SPIDER-VERSE PART 1)
Dan Slott & Olivier Coipel
Marvel Comics, 2014
32 págs., tetracromia, floppy

Confesso-me um fã do Homem-Aranha. 
Desde miúdo que acompanho as aventuras de Peter Parker embora, não tão recentemente quanto pareça, a partir de Brand New Day, tenha deixado de seguir regularmente os títulos do aracnídeo.
Dan Slott entra mais ou menos nessa altura e desde então comanda a vida de Parker - entre dar poderes de aranha a todos os habitantes da ilha de Manhattan e matar Peter Parker e substitui-lo por um dos seus arqui-inimigos (o doutor Octopus) - Slott tem dinamizado as histórias do wall crawler com um entusiasmo juvenil, nem sempre bem aceite, de quem ama a personagem.
A sua última aventura, como não pode deixar de ser, é um evento à escala do multiverso.
Morlun, vilão introduzido por J. Michael Straczynski como o inimigo natural do Aranha - o seu predador -, regressa. desta vez acompanhado por uma família literalmente faminta de poder que vive à parte da realidade, num nicho onde pode atingir qualquer mundo e qualquer versão da sua presa.
Assim, um grupo de diferentes Aranhas mobilizou-se para recrutar os diferentes representantes do totem da aranha espalhados pela Grande Teia (mais um nome para o multiverso), o que acaba por incluir todas a versões alternativas do Homem-Aranha que se viram nestes últimos 50 anos de publicação e mais algumas só porque sim.
Esta atitude revisionista de Slott é o sonho molhado de qualquer cromo da bd, especialmente aquele que conhece intimamente a história de Peter Parker, porque, afinal de contas, é ele o "verdadeiro" Homem-Aranha.
Para quem entrou agora no jogo as coisas não correm muito bem, apesar das pequenas introduções e explicações, esta é uma das principais críticas a este tipo de histórias que dificultam muito a entrada de novos leitores menos interessados em "estudar" uma personagem e que só querem algo que faça sentido e entretenha.
O desenho de Olivier Coipel, já veterano nestas lides de grandes eventos, é muito bom, "estiloso" e consistente, parece conseguir representar qualquer situação ou personagem. Espero que continue no título e não, como se tornou também hábito, salte fora daqui a 3 ou 4 números.
Há ainda uma back-up story desenhada pelo competentíssimo Giuseppe Camuncoli que explora mais intimamente as dinâmicas da família de Morlun e, basicamente, as principais razões para os odiarmos. É sempre bom não gostar do mau.
Portanto, começa outro grande evento na vida do Homem-Aranha que agradará aos fãs de longa data e confundirá os recém-chegados.

5 de Novembro de 2014


DOOMBOY
Tony Sandoval
Magnetic Press, 2014
136 págs., tetracromia, digital

Este ano, em Junho, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja foi lançado o tomo As Serpentes de Água pela Kingpin Books
Ao contrário do habitual das edições portuguesas de autores estrangeiros, Tony Sandoval, o autor, esteve presente. Para minha infelicidade, eu não.
Já conhecia Sandoval das minhas idas ao DeviantArt mas só de relance e sem grande interesse. A leitura do seu mais recente trabalho - Doomboy, publicado pela desconhecida (pelo menos para mim) Magnetic Press - fez-me perceber o infortúnio de não ter ido ao FIBDB.
Doomboy é sobre D. que, após uma grande perda, consegue expressar o seu sofrimento através da música.
D. é um jovem adepto do Metal que não parece ter outro tipo de ocupação para além de frequentar concertos de garagem com alguns amigos.
Sandoval tem um conhecimento muito próximo deste tipo de situação, segundo a sua biografia, no fim do livro, a bd e o Metal são os seus grandes interesses mas embora a história tenha esse cenário preferencial, Doomboy é menos sobre a cena metaleira e mais sobre lidar com o luto e com as emoções associadas à morte de alguém que nos é querido.
A caracterização da personagem principal é algo redutora se pensarmos que pouco sabemos sobre D. mas o seu conflito emocional é muito bem explorado e é fácil empatizar com a personagem.
Mais que Doomboy, esta bd depende muito do elenco. Os amigos e conhecidos de D. têm, por vezes, uma personalidade mais desenvolvida que o protagonista e se alguns podiam muito bem cair no estereótipo, a verdade é que Sandoval habilmente evita o recurso fácil ao cliché e cria pequenos "momentos verdadeiros".
Ajuda imenso à leitura a atmosfera bem conseguida pela arte etérea de Sandoval e pelas suas representações lovecraftianas que amplificam os sentimentos expressados de forma, muitas vezes literalmente, épica.
Um ponto mais subtil do livro é o seu ritmo. Tony Sandoval é um cartunista exímio, particularmente no regular do andamento da história e na representação do tempo, há vários momentos na leitura que fluem muito naturalmente e, acima de tudo, inteligentemente.
No fim do livro fica ainda indiciada a possibilidade de sequela e, neste leitor em particular, a vontade de a ler.
Aconselhado a que gosta de histórias mais focadas na exploração do mundo interior das personagens  que são acompanhadas por uma arte deslumbrante.

1 de Novembro de 2014 (2)

Parece que vou ter de me deixar de adivinhações. De um total de 9 categorias, acertei precisamente em...nenhuma.

Os vencedores deste ano, de acordo com a sua categoria, são:

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum Português
Zona de Desconforto, de vários autores (Chili com Carne)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Argumento para Álbum Português
André Oliveira, Hawk (Kingpin Books)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Desenho para Álbum Português
Pedro Massano, A Batalha 14 de Agosto de 1385 (Gradiva)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeira
Safe Place, de André Pereira e Paula Almeida (Kingpin Books)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Autor Estrangeiro
As Serpentes de Água, de Tony Sandoval (Kingpin Books)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
No Presépio, de Álvaro e José Pinto Carneiro (Insónia/Álvaro Santos)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Ilustração de Livro Infantil (Autor Português)
Vera Tavares, Lôá Perdida no Paraíso (Tinta da China)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Prémio Clássicos da 9.ª Arte
Maus, de Art Spiegelman (Bertrand Editora)

Prémio Nacional de Banda Desenhada: Fanzine
Espaço Marginal, de Marco Silva (Instituto Politécnico de Beja)

Os meus parabéns aos vencedores.

Este ano o Troféu de Honra da Cidade da Amadora foi entregue a Carlos Baptista Mendes, conhecido pela sua longa carreira na bd de conteúdo histórico (foi também um dos nomeados deste ano na categoria de Clássicos da 9ª arte com a sua obra "Portugueses na Grande Guerra").

1 de Novembro de 2014 (1)

Hoje às 19 horas, nos Recreios da Amadora, realiza-se a cerimónia de entrega dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada 2014.
Este ano vou tentar fazer uma coisa diferente e praticar futurismo. Abaixo, cada categoria com os  seus nomeados e a minha aposta sobre quem será o(a) vencedor(a). Não há ciência, não é uma questão de preferência, é só uma brincadeira. Cá vamos.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum Português
  • A Batalha 14 de Agosto de 1385, de Pedro Massano (Gradiva)
  • O Desenhador Defundo, de Francisco Sousa Lobo (Chili com Carne)
  • Hawk, de André Oliveira, Osvaldo Medina e Inês Falcão Ferreira (Kingpin Books)
  • Super Pig: O Impaciente Inglês, de Mário Freitas, André Pereira e Bernardo Majer (Kingpin Books)
  • Zona de Desconforto, de vários autores (Chili com Carne)

E a minha aposta é...













"O Desenhador Defunto", de Francisco Sousa Lobo!

Tem tudo para ser o vencedor desta categoria. É inteligente e filosófica e foi a única bd que li desta categoria.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Argumento para Álbum Português
  • André Oliveira, Hawk (Kingpin Books)
  • Filipe Melo, Dog Mendonça e Pizzaboy III – Requiem (Tinta da China)
  • Francisco Sousa Lobo, O Desenhador Defunto (Chili com Carne)
  • Mário Freitas, Super Pig: O Impaciente Inglês (Kingpin Books)
  • Nuno Duarte, F(r)icções (El Pep)
  • Pedro Massano, A Batalha 14 de Agosto de 1385 (Gradiva)

E a minha aposta é...



"Super Pig: O Impaciente Inglês" de Mário Freitas!

A Kingpin tem investido muito estes últimos anos na publicação de banda desenhada portuguesa e o ano passado a editora de Mário Freitas foi a grande vencedora da noite. Não há nada que impeça que isso se volte a repetir hoje.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Desenho para Álbum Português
  •  André Pereira, Super Pig: O Impaciente Inglês (Kingpin Books)
  • Diniz Conefrey, Os Labirintos da Água (Quarto de Jade)
  • Francisco Sousa Lobo, O Desenhador Defunto (Chili com Carne)
  • João Sequeira, F(r)icções (El Pep)
  • Osvaldo Medina, Hawk (Kingpin Books)
  • Pedro Massano, A Batalha 14 de Agosto de 1385 (Gradiva)

E a minha aposta é...


"Super Pig: O Impaciente Inglês", de André Pereira!

Numa categoria cheia de artistas talentosos, julgo que André Pereira será o vencedor porque... pode muito bem ser. A conversa da Kingpin Books repete-se nesta categoria.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeira
  • Living Will Nº1, de André Oliveira e Joana Afonso (Ave Rara)
  • The Mighty Enlil, de Pedro Cruz (El Pep)
  • Safe Place, de André Pereira e Paula Almeida (Kingpin Books)
  • Propaganda, de Joana Estrela (Plana Press)
  • The Untold Tales of Dog Mendonça and Pizzaboy in The Interactive Adventures of Dog Mendonça & Pizza Boy, de Filipe Melo (Dark Horse)

E a minha aposta é...



"Living Will #1", de André Oliveira e Joana Afonso!

Embora seja a primeira parte de uma narrativa mais longa, não me parece que o júri vá esperar mais um ou dois anos para entregar este prémio à dupla vencedora o ano passado nas categorias de melhor argumento e melhor desenho.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Autor Estrangeiro
  • Ardalén, de Miguelanxo Prado (Asa)
  • Duas Luas, de André Diniz e Pablo Mayer (Polvo)
  • Eu Mato Gigantes, de Joe Kelly e JM Ken Niimura (Kingpon Books)
  • Jim Curioso: Viagem ao Coração do Oceano, de Matthias Picard (Polvo)
  • As Serpentes de Água, de Tony Sandoval (Kingpin Books)

E a minha aposta é...















"Ardálen", de Miguelanxo Prado!

O vetereno autor supostamente virá este ano a Portugal à Comic-Con nacional e seria uma boa altura para poder presenteá-lo com este prémio. É um livro cuja qualidade física sobrepõe aos restantes. Estive na dúvida entre esta bd e a de Tony Sandoval mas a Kingpin não pode ganhar sempre, pois não?


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
  • Há Piores 3 – Até ao Âmago!, de Geral et Derradé (Polvo)
  • No Presépio, de Álvaro e José Pinto Carneiro (Insónia/Álvaro Santos)
  • Tiras do Baralho, de André Oliveira e Pedro Carvalho (El Pep)

E a minha aposta é...

"Tiras do Baralho!", de André Oliveira e Pedro Carvalho!

É pena que num país como o nosso que tanto precisa de humor, só se arranjem 3 nomeados para esta categoria. Já está na altura de seguirmos o exemplo de nuestros hermanos e desancarmos forte, feio e com piada em que merece.
Porquê esta bd?
Sei lá, já são muitas categorias.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Melhor Ilustração de Livro Infantil (Autor Português)
  • Afonso Cruz, Capital (Pato Lógico)
  • Catarina Sobral, O Meu Avô (Orfeu Negro)
  • João Fazenda, Histórias Tradicionais Portuguesas (Caminho)
  • Madalena Matoso, Com o Tempo (Planeta Tangerina)
  • Nuno Saraiva, Aníbal Milhais, Um Herói chamado Milhões (Pato Lógico/Imprensa Nacional Casa da Moeda)
  • Vera Tavares, Lôá Perdida no Paraíso (Tinta da China)

E a minha aposta é...



"Com o Tempo", de Madalena Matoso!

Sem dúvida a categoria que faz mais sentido existir nuns prémios de bd. Infelizmente tem aqui o seu lugar já que não grande reconhecimento para os excelentes ilustradores que temos.
É uma área na qual vou investir mais do meu tempo já que andei a folhear alguns livros da Pato Lógico e fiquei encantado.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Prémio Clássicos da 9.ª Arte
  • Crise nas Terras Infinitas Vol.1 e 2, de Marv Wolfman e George Pérez (Panini/Levoir)
  • Maus, de Art Spiegelman (Bertrand Editora)
  • Naruto Vol. 1, de Masashi Kishimoto (Devir)
  • A Pior Banda do Mundo Vol. 1, de José Carlos Fernandes (Devir)
  • Portugueses na Grande Guerra, de Carlos Baptista Mendes (Arcádia)

E a minha aposta é...














"Naruto Vol. 1", de Masashi Kishimoto!

Esta envolveu algum raciocínio.
Como disse num post anterior, julgo que o AmadoraBD está algo dependente dos seus premiados e efemérides, então porque não matar dois coelhos?
Naruto chega ao fim este ano após 15 anos de publicação, porque não para o ano ter uma exposição sobre Naruto? 
Para além disso, o manga é algo negligenciado neste tipo de cerimónias, seria uma surpresa engraçada. Embora Naruto não seja o epítome da bd japonesa, é das séries mais populares e merece algum destaque.


Prémio Nacional de Banda Desenhada: Fanzine
  • BDLP #4, de João Mascarenhas (Extractus/Olindomar Estúdio)
  • Espaço Marginal, de Marco Silva (Instituto Politécnico de Beja)
  • Juvebêdê, de Carlos Cunha (Associação Juvemedia)

E a minha aposta é...


"Juvebêdê", de Carlos Cunha!

Tanta gente de qualidade a fazer fanzines em Portugal e por causa das regras do concurso ou a inércia dos autores só temos 3 nomeados (um dos quais crónico...).

Cá ficam as minhas apostas. Não se ganha nada com isto mas também não se perde.

A entrada nos Recreios da Amadora é gratuita e está limitada à lotação da sala.
Este ano temos o Mestre António Chainho e de certeza será um bom espectáculo (como tem sido o hábito da organização).
Mais tarde, é só conferir os vencedores (e o Troféu de Honra) no blogue e talvez alguns comentários à cerimónia.

23 de Outubro de 2014

Embora com um dia de atraso, continuamos a nossa visita aos bastidores do AmadoraBD 2014.
Desçamos, então, até ao piso -1. 
Relativamente ao ano passado há algumas mudanças em termos de disposição. À entrada da sala deparamo-nos com o espaço comercial que será ocupado pela Loja do AmadoraBD e pelos diferentes vendedores.
A necessidade de invenção por motivos económicos é mais uma vez realçada e recorre-se a mais um argumento: o ecológico. A reciclagem de materiais de cenários é imperativa e, aparentemente, alguns dos painéis usados remontam aos tempos iniciais do festival com 20 anos de uso.

Neste piso podemos encontrar, distribuídas em sentido horário, as seguintes exposições: 

Ao nível das crianças.
1) Catarina Sobral - Prémio Nacional de BD 2013: Ilustração de Livro Infantil.
A tradição portuguesa na ilustração infantil é forte e temos inúmeros prémios internacionais nessa área (palavras do sr. director). 
Catarina Sobral é a vencedora dos PNBD 2013 na área da ilustração infantil e, como é agora comum, tem direito a exposição própria. Esta exposição terá em conta o público alvo da autora e teremos uma colocação considerada dos quadros expostos.

O 3D numa exposição 3D.
2) Jim Curioso: Viagem ao Coração do Oceano.
O mais recente livro publicado pelas Edições Polvo surpreende não só por não se tratar per se de uma banda desenhada mas também por investir na única moda verdadeiramente eterna - o 3D.
Importada de França, esta exposição sobre a obra de Matthias Picard vai exigir dos visitantes o uso de óculos 3D, como não podia deixar de ser.

3) BDLP - Prémio Nacional de BD 2013: Melhor Fanzine
A Banda Desenhada de Língua Portuguesa  (BDLP) é uma colaboração entre o estúdio angolano Olindomar e o Grupo português Extractus, trata-se de um fanzine de publicação semi-regular e que faz a ponte entre o espaço bedéfilo angolano e português.

Super Suíno.
4) A exposição dedicada ao BDLP encontra-se intercalada por outra dedicada a Osvaldo Medina, recipiente do Prémio Nacional de BD 2013 na categoria de Melhor Desenho de Autor Português, pelo seu trabalho na obra Super Pig: A Roleta Nipónica. Embora seja dedicada primariamente a essa obra julgo que também fará parte da exposição uma recapitulação da carreira de Osvaldo Medina enquanto autor de bd. No momento da visita, esta secção do piso encontrava-se em plena colocação dos quadros que iriam ser expostos.

5) Henrique Monteiro - Prémio Nacional de BD 2013: Melhor Álbum de Tiras Humorísticas.
Em continuação com o esquema das coisas, mais uma exposição dedicada a um dos vencedores do PNBD, desta feita, na área do Cartoon.

6) Sala de Projecção - onde se apresentarão várias animações em colaboração com a Festa da Animação 2014.

"Toomi!"
7) Surfista Prateado - Prémio Nacional de BD 2013: Clássicos da 9ª Arte.
A personagem criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1966 tem exposição própria já que ganhou o prémio Clássicos da 9ª Arte o ano passado. Nesta altura já se suspeita um padrão...

Há ainda um espaço dedicado ao Atelier de banda desenhada, para miúdos e graúdos que se queiram aventurar na criação de uma bd.
Para além destes, temos ainda os locais de exposição dos participantes no Concurso Nacional e uma exposição específica dos 25 anos do FIBDA intitulada "25 anos, 25 autores, 25 cartazes" que não precisa de outro tipo de descrição.

De regresso ao piso 0, houve uma sessão para esclarecimento de dúvidas onde a timidez geral surpreendeu, principalmente, por contrastar com as vozes onlines tão activas que têm discutido fervorosamente este festival nos últimos tempos. 
Após isso, foi-nos permitido ir à sala de emolduração, onde se pôde observar as diversas obras a serem expostas no espaço para as publicações portuguesas de 2013 e alguns originais manipulados cuidadosamente na sua preparação para estas próximas duas semanas.

Comentários finais: 
O FIBDA ou AmadoraBD ou o que lhe quiserem falar é o maior festival português de banda desenhada que, embora tenha tido cortes recentes consideráveis, continua a usufruir de um orçamento "decente" para a sua realização. 
Este esforço por parte da câmara Municipal da Amadora traz-nos muita alegrias como amantes da nona arte mas também traz muitas preocupações. A principal tem que ver com a divulgação do festival que é, todos os anos, deixada para a última hora.
A ideia de uma visita de bastidores parece-me uma boa alternativa a uma conferência de imprensa já que permite uma exploração do terreno. Mas esta visita traz consigo aspectos menos positivos, pois permitiu perceber que embora resulte de "um trabalho de mês e meio" (palavras do Director Nelson Dona), a 4 dias da sua abertura ainda havia um longo caminho para percorrer.
Outra preocupação minha tem que ver com a dependência do festival (mais de metade das exposições) dos premiados do ano anterior. Compreende-se que manter as coisas a nível nacional permita uma certa contenção de custos mas há mais opções para além da autofagia que se verifica.
Como positivo temos um excelente trabalho de cenografia e um festival de nível internacional em terras lusas a um custo bastante acessível.
Apesar das críticas, a verdade é que o AmadoraBD realiza-se todos os anos, tem impacto e alimenta polémicas (que não é necessariamente negativo, já que dá algum dinamismo ao nosso nicho).
Este ano vou principalmente pela exposição "Galáxia XXI" e também pela curiosidade de ver o espaço completo em todo o seu esplendor. Recomendo vivamente a ida.

21 de Outubro de 2014

O edifício da Câmara Municipal.
A viagem de comboio é relativamente curta mesmo que o ponto de partida seja de um lado ou outro da linha. 
À chegada à Amadora deparamo-nos com a Câmara Municipal  e o seu estandarte comemorativo dos 35 anos do Município - nesse mesmo local, há dois anos, estava o equivalente para o AmadoraBD.
A pouco de 100 metros da estação, a paragem de autocarros (apanhei o 143 mas há outros) para o Fórum Luís de Camões, o local de realização do Festival já há alguns anos. A viagem até à Brandoa é rápida e em 15 minutos somos deixados praticamente à porta do Fórum.
A alternativa seria estar às 11 horas no Marquês e aproveitar o transporte garantido pela organização.
"Mas que história é esta?"- podem perguntar.
Bem, para minha surpresa, a semana passada, recebi um e-mail com um convite para uma visita de imprensa ao AmadoraBD.
Tratava-se de uma visita de antecipação (ao que parece, preferível a uma conferência de imprensa) ao 25º AmadoraBD, ao núcleo central da exposição com direito a apresentação da programação, obras e materiais, cenografias, etc.

A literal recepção do AmadoraBD.
A recepção foi feita pelo director do evento, Nelson Dona, pela Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Carla Tavares e pelo Vereador do Pelouro da Cultura, António José da Silva Moreira.
À volta da nossa pequena comitiva (que incluía repórteres do TVAmadora e Antena 1, algumas caras conhecidas do mundo blogueiro e outras que desconheço), o bulir de quem tem que ter um festival pronto em 4 dias - os cenários já completos, faltando montar ainda a maioria das exposições e uns retoques finais.
O discurso inicial referiu o empenho da Câmara no âmbito da Cultura apesar dos constrangimentos orçamentais (Alguém pergunta: "Qual foi o orçamento deste ano?". A resposta: "510 mil euros". Em temos o FIBDA contava com mais do dobro desta quantia mas como se diz há mais de 10 anos: "É a crise..."), a etnografia dos visitantes (referência ao inevitável estudo feito por Helena Santos com quase 10 anos) e os objectivos actuais.

A visita inicia-se pelo espaço onde decorrerá a exposição dos 75 anos do Batman, numa parede amarela podemos observar uma cena com estilo de desenho semelhante ao Bruce Timm - a Liga da Justiça vê através de um portal duas figuras maléficas (só me lembrei de tirar fotos mais tarde mas, para os mais curiosos, essa imagem pode ser encontrada noutros blogues bedéfilos). A exposição é comissariada por Lawrence Klein e José Miguel Lameiras, o primeiro fundou e foi director do Museum of Comic and Cartoon Art em Nova Iorque e o segundo é já um conhecido veterano nestas lides da bd portuguesa, para além de historiador, conseguem encontrá-lo muitas vezes atrás do balcão da Dr. Kartoon em Coimbra.

Quase no ponto.
Em contiguidade encontramos os espaços dedicados às exposições "Galáxia XXI: O Futuro da Banda Desenhada é Agora", comissariado por Sara Figueiredo Costa e Luís Salvado, para mim a mais interessante, que explora o passado e futuro da bd, infelizmente ainda sem nenhuma obra mas já bem estruturada; "O Baile", esta ladeada pelos seus pais, "Nuno Duarte - Melhor Argumento de Autor Português 2013" e "Joana Afonso - Autora portuguesa em destaque" (curiosidade: a Joana Afonso também fez 25 anos em 2014 e é a primeira mulher a ilustrar o poster do FIBDA e a primeira pessoa nesta edição a ter exposição praticamente montada) e também na boa companhia de "Mafalda, uma Menina de 50 anos".
O hábito de expor os trabalhos dos premiados do ano anterior e as efemérides (cada vez mais, parece que não se inventou mais nada novo a partir de determinada altura) parecem ter-se tornado uma constante do festival.

2013 em revista.
Ainda neste primeiro piso, uma pequena floresta de árvores rodeada por uma floresta maior de candeeiros e um sinal que diz de forma até bastante legível "pintado de fresco".
Aqui realizar-se-á a exposição do  ano editorial português, diferente este ano porque irá - de forma justa, julgo - incluir mesmo os trabalhos que não foram nomeados para os Prémios Nacionais de Banda Desenhada (PNBD).
Infelizmente, o regulamento dos PNBD acaba por excluir muitas obras interessantes que são prejudicadas por não ter nenhum tipo de promoção em termos de FIBDA.
Lá ao fundo, o espaço para os "autógrafos desenhados" que não foi particularmente realçado mas também não havia grande coisa para se mostrar mas certamente uma das áreas que terá mais movimento durante estes próximos fins-de-semana.


A tentação.
O auditório onde decorreram as conversas com autores e projecção de filmes encontrava-se no momento ocupado por vários originais pertencentes à exposição do Batman, protegidos do movimento que ainda se vive no piso. Esta exposição específica contou com o empréstimo de vários originais vindos de vários países.
E relativamente ao piso 0 do AmadoraBD estamos mais ou menos falados. Amanhã "descemos" para as restantes exposições.
Finalmente, quero deixar os meus agradecimentos a Helena César, a assessora de imprensa do AmadoraBD (e a responsável por esta visita).