1 de Janeiro de 2013

"We've been waiting for you, Kizaki-san."
THE PUSH MAN AND OTHER STORIES
Yoshihiro Tatsumi
Drawn and Quarterly, 2012
208 págs., P&B

Para se afastar do Manga (imagens irresponsáveis) e dos seus temas, o termo Gekida (imagens dramáticas) foi criado para designar uma bd mais adulta e "alternativa". Um dos autores a quem foi atribuída a invenção da palavra é Yoshihiro Tatsumi que começa a publicar o que chama de gekida já em 1957.
Resultado da iniciativa de Adrian Tomine e da Drawn and Quarterly, The Push Man and other stories trata-se da primeira tradução oficial da obra de Tatsumi para inglês e é uma antologia de 16 bds curtas feitas em 1969 (o propósito é cada volume representar o melhor que Tatsumi fez em determinado ano, portanto, o segundo teria histórias de 1970, o seguinte de 1971 e por aí adiante...).
As histórias escolhidas partilham uma atmosfera opressiva e tensa que culmina numa explosão emocional que, embora esperada, surpreende sempre.  O Japão representado no livro está longe da sociedade ultramoderna e tecnocêntrica que actualmente associamos aos nipónicos risonhos, aluados e de câmara fotográfica na mão. Em 1969 ainda pairava o fantasma do pós-guerra (a II Guerra Mundial deixou grandes mazelas na psyche japonesa): prédios degradados; as roupas ocidentais que  coexistiam com os trajes tradicionais que resultam de uma espécie de esquizofrenia cultural; personagens desempregadas ou com profissões de baixa qualificação. O que nos leva a outra coisa comum a todas as narrativas: o protagonista. Embora se tratem de indivíduos diferentes, a desempenhar papéis e profissões diversas, podemos falar de um protagonista único. Homem, introvertido, dado a impulsos, vive uma relação com uma mulher que o domina de uma forma ou outra. O desenho de Tatsumi ajuda também a esta personagem masculina genérica, claro que há excepções mas, a representação física dos protagonistas é tão próxima que as histórias misturam-se na cabeça do leitor. São narrativas que normalmente retratam um relacionamento onde há um desequilíbrio de forças na dinâmica do casal que acaba por se resolver, regra geral, de forma violenta. Como remate, uma moral que salienta a tragicidade da resolução. Esta relação é sempre disfuncional e, por vezes, a disfunção estende-se à interacção social e temos o protagonista a adoptar um papel de pária.
É uma leitura desconcertante, nem mesmo o distanciamento temporal, físico e cultural permite ao leitor não se deixar afectar; a estranheza encontra-se no que é e como é contado, longe do quotidiano "normalzinho" de uma sociedade ocidental moderna.
Tatsumi ainda ressalva numa entrevista no final do livro que o leitor não deve interpretar estas histórias como representativas da personalidade do autor e que para compreender a sua obra é preciso ler mais.