"Bolas, mulher, nunca mais te calas?" |
Ricardo Cabral
Edições Asa, 2011
96 págs., tetracromia
Quando "Evereste" - baseado na experiência real do alpinista português João Garcia - saiu em 2007, tinha na sua capa fria e opressiva dois homens a escalar, a um custo muito real e conhecido, uma montanha gelada.
A capa de "Pontas Soltas" situa-se numa posição quase diametralmente oposta à de "Evereste". Um design limpo e colorido coloca-nos numa perspectiva extrema a sobrevoar uma cidade. No meio da imensa estrutura citadina, pequenos vislumbres de elefantes cor-de-rosa, robôs disfarçados de prédios e borboletas inteligentes bidimensionais. Como em "Evereste", somos preparados para o interior do livro.
Uma colecção de histórias curtas que "se unem de forma natural sobre o tema Cidades", "Pontas Soltas" é parte autobiográfico, parte fantástico e parte diário de viagem.
O ponto alto do álbum é "Da cidade...", um passeio pela cidade de Portimão cujo fio condutor é uma conversa continuada pelas várias pessoas que encontramos pelo caminho. Nestas dez páginas, o autor revela uma sensibilidade para o diálogo, plausível e humano, sem a qual esta sequência não seria tão eficaz.
Para além do diálogo, o elemento mais característico da obra é o seu estilo gráfico fotorrealista. Ricardo Cabral é um ilustrador mais que competente (talentoso), domina facilmente os vários elementos do desenho propriamente dito (perspectiva, anatomia, luz, forma, etc.) mas é a sua dependência (admitida no próprio texto) do registo fotográfico que o limita. Pessoalmente prefiro traços mais "livres" e a escolha das cores dá uma aparência artificial mesmo ao desenho de observação "ao vivo".
À parte da minha preferência estilística, gostaria de ver Cabral investir em narrativas menos sediadas na autobiografia (mesmo que com alguns laivos fantasiosos). Não sei se há receio da entrega plena à ficção mas a verdade é que neste álbum a única história ("Lágrimas de Elefante") do género é em colaboração. Agora que se fala em novo projecto e após reconhecimento nacional e além-mar, será interessante ver em que veredas caminhará Ricardo Cabral.
Originalmente publicado aqui.
A capa de "Pontas Soltas" situa-se numa posição quase diametralmente oposta à de "Evereste". Um design limpo e colorido coloca-nos numa perspectiva extrema a sobrevoar uma cidade. No meio da imensa estrutura citadina, pequenos vislumbres de elefantes cor-de-rosa, robôs disfarçados de prédios e borboletas inteligentes bidimensionais. Como em "Evereste", somos preparados para o interior do livro.
Uma colecção de histórias curtas que "se unem de forma natural sobre o tema Cidades", "Pontas Soltas" é parte autobiográfico, parte fantástico e parte diário de viagem.
O ponto alto do álbum é "Da cidade...", um passeio pela cidade de Portimão cujo fio condutor é uma conversa continuada pelas várias pessoas que encontramos pelo caminho. Nestas dez páginas, o autor revela uma sensibilidade para o diálogo, plausível e humano, sem a qual esta sequência não seria tão eficaz.
Para além do diálogo, o elemento mais característico da obra é o seu estilo gráfico fotorrealista. Ricardo Cabral é um ilustrador mais que competente (talentoso), domina facilmente os vários elementos do desenho propriamente dito (perspectiva, anatomia, luz, forma, etc.) mas é a sua dependência (admitida no próprio texto) do registo fotográfico que o limita. Pessoalmente prefiro traços mais "livres" e a escolha das cores dá uma aparência artificial mesmo ao desenho de observação "ao vivo".
À parte da minha preferência estilística, gostaria de ver Cabral investir em narrativas menos sediadas na autobiografia (mesmo que com alguns laivos fantasiosos). Não sei se há receio da entrega plena à ficção mas a verdade é que neste álbum a única história ("Lágrimas de Elefante") do género é em colaboração. Agora que se fala em novo projecto e após reconhecimento nacional e além-mar, será interessante ver em que veredas caminhará Ricardo Cabral.
Originalmente publicado aqui.