28 de Junho de 2014

A Água Castello celebra este ano os seus 115 anos de existência e para comemorar a efeméride contratou a agência publicitária Strat para a campanha "Não é água. É Castello.". 
Segundo o director criativo da Strat, José Campos, "a marca Castello é uma marca com história. Faltava-lhe uma narrativa." e, como tal, a agência inspirou-se na bd (meio narrativo supremo!) para desenvolver esta campanha que deve aproximar a Água Castello de um "território urbano, cosmopolita e trendy".
Ora, a inspiração roça muito intimamente o plágio já que, para aqueles que conhecem o trabalho de Charles Burns (responsável pela graphic novel Black Hole e inúmeras colaborações com a revista Believer), há semelhanças difíceis de justificar com base na coincidência. É caso para dizer "Não é Strat. É Burns.".

Agradecimentos a Carol Tilley, que me chamou à atenção para isto no Twitter.

June 15, 2014

"It's just a job. It's not who I am."
POPE HATS #3
Ethan Rilly
AdHouse Books, 2012
40 pages, B&W, floppy

We sometimes forget that reading a comic book is more than just a visual experience.
The first thing you notice about Pope Hats #3 is its paper stock, the cover is sturdy and has a weight that feels different than other comics (at least those that aren´t published by AdHouse). It's a sort of heftiness that will translate into the reading of the book.
Frances Scarland is a law clerk in a major law firm that is, slowly but surely, rising in its hierarchy. People like Frances, she's a workaholic and that's starting to take its toll. Her best friend and flat mate, Vickie is an actress that apparently has finally made it and is leaving Frances for a successful career in California.
There is something terribly soap opera-y about this comic, but in a good way. Forget about Ethan Rilly's clean cut art - informed by Hergé's ligne claire -, his ridiculously good storytelling and design sense, one of the strenghts of this book is its ability to engage and immerse the reader in an unusual environment: the inner workings  of a law firm. Rilly's universe is coherently solid and what is left unsaid speaks more about each character than any dialogue.
Trust me, this is a strangely magnetic book that sucks you in and leaves you wanting more. If you don't believe me, why not go to Pope Hat's letters page (I love that it has a letter page!) and read what the anonimous reader (like Jeffrey Brown, Adrian Tomine, Seth and Tonči Zonjić) has to say.
By the way, a pope's hat is a mitre.

9 de Junho de 2014

"This was about the time that mom started to pull away."
CELEBRATED SUMMER
Charles Forsman
Fantagraphics, 2014
68 págs., P&B, capa mole

O ano passado, a Fantagraphics publicou The End of the Fucking World de Charles Forsman. Eu fiquei de escrever algo sobre o livro mas fiquei-me pelo teaser. Era uma história sobre uma adolescência difícil, diferente das outras, se calhar um oposto diametral, era sobre não sentir e como isso nos aproxima e afasta da nossa humanidade.
Forsman foi aluno do Center for Cartoon Studies e, após se formar, rapidamente se aventurou na publicação independente de banda desenhada. Fundou a editora Oily Comics, baseando-se numa política muito específica: formatos simples e preços acessíveis.
Celebrated Summer é a sua primeira longa história - na verdade, TEOTFW foi primeiro serializado e só depois colectado pela Fantagraphics - e continua a abordar o tema da adolescência.
Desta feita, o protagonista é um adolescente obeso chamado Wolf. Com o seu amigo Mike, Wolf faz uma pequena viagem de auto-descoberta após terminar o liceu. Wolf é um ser solitário (talvez seja daí que derive o seu apelido) que faz da introversão uma forma de viver. São os momentos de monologo interno que mais revelam sobre si e que nos dão vislumbres das áreas da sua vida que não são exploradas na narrativa - nomeadamente, porque vive só com a sua avó.
No desenho de Forsman nota-se a clara influência de Charles Schultz (Peanuts), um traço familiar e seguro que descomplica. Apropriado e familiar, ao contrário do que pensa a populaça, é sempre adulto e concilia-se bem com a temática e o ambiente desta bd.
Portanto, Celebrated Summer não é uma história per se, não segue um enredo nem se chega a uma conclusão concreta. É uma história sobre uma pessoa, a sua solidão e o que se pode, ou não, deduzir das entrelinhas. Um pouco como a vida real.

June 8, 2014

"This was about the time that mom started to pull away."
CELEBRATED SUMMER
Charles Forsman
Fantagraphics, 2014
68 pages, B&W, softcover


Last year, Fantagraphics Books published The End of the Fucking World by Charles Forsman.
I was going to write something about the book but all I ended up doing was just tease about it.
TEOTFW was a book about a different kind of adolescence, one that is maybe in a diametrical opposite of the traditional view of teens: it was about not feeling and how it made us closer and farther away from our humanity.
Forsman was a student at the Center for Cartoon Studies and soon after graduation decided to adventure into independent publishing. He founded Oily Comics based on a specific policy: simple, affordable comics.
Celebrated Summer is, technically, his first long form book - TEOTFW was actually first serialized as floppies and only later collected into book form by Fantagraphics - and continues to approach the thematics of adolescence.
Wolf, our overweight protagonist, with his friend Mike decide to take a short trip (in more than one way) after graduating from high school. Self-discovery ensues.
He is, pardon the pun, a lone Wolf, a solitary creature that makes introversion his way of life. His inner monologues are that much more revealing about him and offer us glimpses about the parts of his life that aren't explored in the book - particularly his relationship with his grandmother.
Forsman drawing style is clearly influenced by Charles Schulz (Peanuts), a familiar and safe line that uncomplicates. An appropriate style that, unlike popular belief, is always adult and that fits well with the story's atmosphere and themes.
So, Celebrated Summer is not a story per se, doesn't follow a plot nor comes to a clear conclusion. It's a story about a person, their loneliness and what may or may not be inferred between the lines. A bit like real life.

8 de Junho de 2014


June 1, 2014

A taste for alliteration.
S.F.
Ryan Cecil Smith
Koyama Press, 2013
59 pages, B&W, softcover

If only all saturday morning cartoons were this good. 
S.F. is Ryan Cecil Smith's version of waking up early, turning the tv on, sitting on the floor and telling your mom "just a minute!" when she orders you to have breakfast.
Fun and light-hearted, S.F. is a science fiction comic that plays with the genre's clichés and presents them as an all ages comic book.
This is the third volume of the series but, honestly, it's all pretty (literally) self-explanatory. An intergalactic organization of do gooders is in constant battle with evil, evil people. Kudos to Smith for those introductory first two pages - most comics nowadays forget that sometimes the reader isn't as informed as they "should" be.
Smith's cartooning is strangely familiar and clearly influenced by manga (particularly where shading is concerned) or its animation equivalent (Captain Harlock, anyone?). It's quite easy on the eyes.
The book's strength is in its pacing and character development. Each character has a bit of the spotlight and the book is better for it.
If you want a hardcore science fiction comic, this is not the book you're looking for (try Prophet by Brandon Graham et al.). If you have kids or just want to relive a bit of your lost childhood then go buy this!

1 de Junho de 2014

"You sure?"
SOUTHERN BASTARDS #1
Jason Aaron & Jason Latour
Image Comics, Abril 2014
28 págs., tetracromia, floppy

Earl Tubbs deixou Craw County há quarenta anos mas agora, com a mudança do seu tio para um lar, regressa à sua cidade-natal para resolver assuntos pendentes.
Southern Bastards é uma história sobre nostalgia no sentido mais literal da palavra. Passada no sul dos Estados Unidos, região cada vez mais aproveitada como cenário, seja pela sua história violenta como pela mística que lhe é inerente. Southern Bastards é sobre um regresso a casa.
Craw County está sob o domínio de uma figura misteriosa: Boss (será Bruce Springsteen?) e os seus capangas intimidam a população com impunidade. Earl é o filho do antigo xerife, uma lenda local, e, relutantemente, defende uma figura algo patética do seu passado.
Jason Aaron começa assim o seu novo conto americano, mais uma história de conflitos e costumes que, esperamos, terá a mesma qualidade de Scalped.
O que mais surpreende é a arte do outro Jason (Latour) que consegue ser dura mas elegante. De realçar o ritmo conseguido na penúltima página, onde três momentos diferentes se intercalam de forma eficaz e ressonante. Isto sem falar da palete de cores escolhida que complementa perfeitamente o ambiente da história.
Para ler se gostam de séries da HBO.