"O sonho acabou." |
Octavio Cariello & Pietro Antognioni
Terracota Editora, 2014
124 págs., tetracromia, capa mole
Em 2013, na plataforma brasileira de crowdfunding Catarse, "Portais" apresentou-se como uma ambiciosa história de ficção científica com a promessa de linhas temporais múltiplas e um enredo complexo que iria fazer sentido de tudo. Octavio Cariello encabeçava o projecto como argumentista sendo acompanhado pelos desenhos de Pietro Antognioni, artista que nessa altura eu seguia no DeviantArt - foi o seu traço influenciado pelos artistas da companhia de videojogos Capcom que me fizeram dar uma vista de olhos em "Portais".
Tinha tudo para dar certo. O vídeo que acompanhava a descrição do projecto era prometedor, dinâmico, aguçava o apetite e, portanto, seduzido, decidi investir no que julgava ser uma aposta segura. Cumpriram-se os prazos e em 2014 "Portais" chega a minha casa em formato físico e espera numa estante 3 anos até ser finalmente lido.
A reacção inicial foi comedida, as personagens foram introduzidas aos poucos, página a página, cada um com o seu nome estranho, de tempos e culturas díspares. O português do Brasil não faz mossa com a aclimatização de décadas de desenhos animados e telenovelas.
O pior é quando o leitor se apercebe que Cariello optou por manter esta abordagem de escassas páginas para cada personagem durante o livro todo. Ou seja, uma página aborda o príncipe renegado, a seguinte o príncipe fugitivo, outra o cowboy, outra a humana contemporânea, etc. - isto com um elenco de mais de meia dúzia. E quando se ultrapassa esse limites das páginas individuais, não são aproveitados esses luxos para explicar melhor as motivações das personagens e são criadas ainda mais dúvidas "misteriosas" que não têm resolução...
Se eu pudesse dizer que organizando essas páginas, criando um arco narrativo para cada personagem, reduziria a desorientação do leitor, estaria a mentir. Algumas personagens têm laivos de personalidade, outras são de cartão molhado pela chuva. As elipses estão longe de intuitivas, há saltos na história e omissões que não fazem sentido nenhum.
Nem falo do enredo principal se tratar da história banal do reunir de desconhecidos para enfrentar um mal maior (algo que assumo, desavergonhadamente, vou usar no futuro). Neste caso trata-se de um mal menor, pois para além de alguma violência gratuita e gore, nunca há uma sensação de ameaça real, já que está tudo fatiado.
Antognioni é o melhor desta bd e nem isso é um elogio. A sua arte estilizada promete mas acaba por perder com as opções narrativas.
A maioria das personagens estão à distância e pouco se aproveita em termos de expressividade e há inúmeras falhas em termos de sequencialidade, acabando por realçar o mecanicismo frio e trôpego da leitura. Não há continuidade.
Sendo picuinhas, a colocação de algumas caixas de texto, a opção de cores diferentes para as falas das diferentes personagens ou línguas, os nomes recheados de consoantes, ajudaram à confusão geral.
Não costumo fazer isto mas a minha reacção à leitura foi tão visceral - pela negativa - que não posso dizer outra coisa: é talvez das piores coisas que li nos últimos anos.
Isto vindo de alguém que ajudou a financiar esta bd. Desilusão o teu nome é "Portais".
O pior é quando o leitor se apercebe que Cariello optou por manter esta abordagem de escassas páginas para cada personagem durante o livro todo. Ou seja, uma página aborda o príncipe renegado, a seguinte o príncipe fugitivo, outra o cowboy, outra a humana contemporânea, etc. - isto com um elenco de mais de meia dúzia. E quando se ultrapassa esse limites das páginas individuais, não são aproveitados esses luxos para explicar melhor as motivações das personagens e são criadas ainda mais dúvidas "misteriosas" que não têm resolução...
Se eu pudesse dizer que organizando essas páginas, criando um arco narrativo para cada personagem, reduziria a desorientação do leitor, estaria a mentir. Algumas personagens têm laivos de personalidade, outras são de cartão molhado pela chuva. As elipses estão longe de intuitivas, há saltos na história e omissões que não fazem sentido nenhum.
Nem falo do enredo principal se tratar da história banal do reunir de desconhecidos para enfrentar um mal maior (algo que assumo, desavergonhadamente, vou usar no futuro). Neste caso trata-se de um mal menor, pois para além de alguma violência gratuita e gore, nunca há uma sensação de ameaça real, já que está tudo fatiado.
Antognioni é o melhor desta bd e nem isso é um elogio. A sua arte estilizada promete mas acaba por perder com as opções narrativas.
A maioria das personagens estão à distância e pouco se aproveita em termos de expressividade e há inúmeras falhas em termos de sequencialidade, acabando por realçar o mecanicismo frio e trôpego da leitura. Não há continuidade.
Sendo picuinhas, a colocação de algumas caixas de texto, a opção de cores diferentes para as falas das diferentes personagens ou línguas, os nomes recheados de consoantes, ajudaram à confusão geral.
Não costumo fazer isto mas a minha reacção à leitura foi tão visceral - pela negativa - que não posso dizer outra coisa: é talvez das piores coisas que li nos últimos anos.
Isto vindo de alguém que ajudou a financiar esta bd. Desilusão o teu nome é "Portais".