O poder da palavra. |
Mike Carey & Peter Ross
Vertigo Comics, 2009-2012 (continua)
Tom Taylor é, à falta de melhor palavra,
um falhado. Wilson Taylor, o seu pai, escreveu uma série de livros
infantis à la Harry Potter cuja principal
personagem, Tommy Taylor, é inspirada no seu filho. Após o desaparecimento
misterioso de Wilson, Tom vive de circuitos literários, assinando os
livros do pai, dando palestras e tirando proveito financeiro da sua
"relação" com Tommy. Quando um membro do público coloca em dúvida a
sua identidade, o seu mundo desmorona e assim começa a sua história.
O que inicialmente poderia parecer uma
versão adulta de Harry Potter revela-se algo mais, Carey pretende
abordar a importância das histórias e como elas influenciam a nossa
vida. Em Unwritten uma organização secreta
manipula o resultado de acontecimentos importantes ao longo da História e fá-lo
recrutando escritores talentosos para que estes desenvolvam narrativas de
acordo com os seus preceitos, com repercussões bem tangíveis e reais.
Esta premissa permite personagens de luxo
(como Rudyard Kipling e Oscar Wilde); uma espécie de "geografia
literária" de locais que estão ligados directa ou indirectamente a obras
conhecidas; o uso de personagens ficcionais (o monstro de Frankenstein, Lizzie
Hexam de Our Mutual Friend); diferentes formas de escrita... Enfim,
Carey tem à sua disposição um conjunto infinito de possibilidades a explorar.
O recurso a personagens de ficção não é algo novo na banda desenhada e não falemos das tradicionais adaptações de obras clássicas. Um exemplo recente e mais conhecido é The League of Extraordinary Gentlemen de Alan Moore e Kevin O'Neil, inicialmente uma ode à literatura vitoriana que entrosava num só enredo as inúmeras referências aos livros (e seus contemporâneos) de onde tirava inspiração. Ao contrário deste The Unwritten parece ter objectivo mais especifico e dirigir-se para uma verdadeira conclusão (ou pelo menos ter uma já planeada).
A arte de Peter Gross é funcional e consistente, não impressiona pela sua estética mas é sólida e aos poucos estabelece o que é o visual da série: enraizado na realidade mas ainda assim capaz de voos de imaginação. Se se cumprissem os preceitos de uma série tipicamente americana um desenhador mais "atraente", mais espalhafatoso, acabaria por abandonar a publicação por não cumprir os prazos e a consistência visual da obra estaria comprometida. Gross é seguro e até hoje as coisas têm corrido bem, sem atrasos.
De referir ainda as maravilhosas capas de Yuko Shimizu (por favor não confundir com a homónima criadora da Hello Kitty!) que à primeira vista parecem ser o embrulho bonito (como as capas, antes de James Jean, agora de João Ruas, de Fables) para a série mas não se iludam, cada capa é um resumo perfeito do que se encontra no interior. Se bem que a ascendência de Shimizu é perfeitamente notória na sua arte, nas capas os protagonistas (especialmente Tom) têm um ar asiático que, se calhar, não concilia bem com o interior tão ocidental em termos estéticos e temáticos. Mas são tão bonitas...
Este mês saiu o número 40 de The Unwritten e só nos resta acompanhar os autores até a última paragem do que espero ser uma longa viagem.
O recurso a personagens de ficção não é algo novo na banda desenhada e não falemos das tradicionais adaptações de obras clássicas. Um exemplo recente e mais conhecido é The League of Extraordinary Gentlemen de Alan Moore e Kevin O'Neil, inicialmente uma ode à literatura vitoriana que entrosava num só enredo as inúmeras referências aos livros (e seus contemporâneos) de onde tirava inspiração. Ao contrário deste The Unwritten parece ter objectivo mais especifico e dirigir-se para uma verdadeira conclusão (ou pelo menos ter uma já planeada).
A arte de Peter Gross é funcional e consistente, não impressiona pela sua estética mas é sólida e aos poucos estabelece o que é o visual da série: enraizado na realidade mas ainda assim capaz de voos de imaginação. Se se cumprissem os preceitos de uma série tipicamente americana um desenhador mais "atraente", mais espalhafatoso, acabaria por abandonar a publicação por não cumprir os prazos e a consistência visual da obra estaria comprometida. Gross é seguro e até hoje as coisas têm corrido bem, sem atrasos.
De referir ainda as maravilhosas capas de Yuko Shimizu (por favor não confundir com a homónima criadora da Hello Kitty!) que à primeira vista parecem ser o embrulho bonito (como as capas, antes de James Jean, agora de João Ruas, de Fables) para a série mas não se iludam, cada capa é um resumo perfeito do que se encontra no interior. Se bem que a ascendência de Shimizu é perfeitamente notória na sua arte, nas capas os protagonistas (especialmente Tom) têm um ar asiático que, se calhar, não concilia bem com o interior tão ocidental em termos estéticos e temáticos. Mas são tão bonitas...
Este mês saiu o número 40 de The Unwritten e só nos resta acompanhar os autores até a última paragem do que espero ser uma longa viagem.
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