9 de Agosto de 2012

Drifter.
RASL
Jeff Smith
Cartoon Books, 2008-2012
382 págs., P&B

Jeff Smith é conhecido pelo seu épico Bone, de quase 1400 páginas, sobre três primos expulsos da sua cidade natal que se vêem numa terra desconhecida onde princesas e dragões acabam por inevitavelmente enfrentar as forças do Mal.
Se estes parecem ser os trâmites familiares da Fantasia básica, Bone sobressai pela sua excelente caracterização das personagens, o seu sentido de humor e o talento de Smith como cartunista e, acima de tudo, contador de histórias. Inspirado por Walt Kelly (cuja influência é notória no desenho dos primos titulares), Carl Barks e J.R.R. Tolkien, Smith conseguiu que Bone fosse um sucesso estrondoso especialmente entre as faixas etárias mais jovens.
Após quatro anos (embora neste intervalo tenha feito a mini-série Shazam!: The Monster Society of Evil para a DC Comics), Smith regressa com uma nova história que se distancia radicalmente de Bone. Ao que parece Jeff e alguns dos seus amigos tinham combinado que as suas próximas bds seriam de ficção científica e assim temos RASL (e também Echo de Terry Moore). No entanto, não podemos considerar que seja uma obra de ficção científica pura já que também tira muito dos filmes noir dos anos 40-50 e dos mitos criacionistas norte-americanos.
RASL é a estória de um ladrão que visita realidades alternativas em busca de originais de pintores famosos para poder vendê-los a quem mais pagar. Com o desenrolar da trama descobrimos o verdadeiro nome (e o significado do pseudónimo) do protagonista, as circunstâncias que o levaram a esta situação e as suas reais motivações.
Como pano de fundo Nikola Tesla, cientista e inventor do fim do séc. XIX e início do séc. XX. Através da sua biografia é-nos fornecida a base "científica" e um dos elementos intercalares (e interessantes) da acção.
RASL acaba por se revelar uma história de amor e traição e aí entram as convenções do género noir, a narração em primeira pessoa, os flashbacks, a relação extraconjugal com a mulher do melhor amigo, entre outros (há mesmo uma quase citação do Maltese Falcon lá pelo meio e fim!). Entretanto, Smith tenta também abordar os temas da religião e espiritualidade recorrendo à mitologia índia norte-americana e a duas personagens bizarras, uma em particular com papel preponderante na conclusão da narrativa.
Juntando-se ao elenco excêntrico temos Sal, principal antagonista e contraponto do herói,  que parece representar o pensamento primitivo (até no seu aspecto físico reptiliano), ou antes uma perspectiva fixa da realidade que não deve ser questionada e que é superior a todas as outras.
RASL não se equipara a Bone, o equilíbrio que o segundo tem entre leveza e profundidade (que nem são antónimos) não acontece no primeiro. A intenção do autor é precisamente atingir um público mais adulto e afastar-se de um universo ao qual se dedicou durante 13 anos e que o vai perseguir para sempre. Em relação ao aspecto formal da obra, a composição e perícia de Jeff Smith mantêm-se: sabe contar histórias. E tem-me no seu público cativo.

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