"Crucifiction!" |
Paolo Bacilieri
Coconino Press, 2014
144 págs., P&B, capa mole
A minha primeira viagem ao estrangeiro como adulto foi a Itália, especificamente a Roma e Florença. Como não podia deixar de ser, eu e dois amigos decidimos ir à procura das lojas de bd mais próximas. A Forbidden Planet de Roma é semelhante às nossas lojas do género, cheia de merchandising e comics americanos. A diferença reside, claro, no material nativo e a Forbidden Planet romana não desiludiu e tinha uma selecção respeitável de autores italianos. Um deles era Paolo Bacilieri. Na loja comprei "More Fun", a sequela do título que vou discutir neste post.
Foi em Florença que encontrei este livro, numa das La Fetrinelli (mais ou menos o equivalente italiano da Fnac) locais.
"Fun" é sobre o jogo das palavras cruzadas. O livro faz uma revisão dos intervenientes, a importância do jogo em eventos históricos e, surpreendentemente, os seus paralelismos com a arte da banda desenhada.
O que torna chamativo este título é o superficial, ou seja, a arte que encontramos a adornar a capa e interiores. Bacilieri é um desenhador talentoso, tem um estilo próprio pormenorizado e atraente, as suas personagens são facilmente identificáveis, os locais retratados realistas e harmoniosos. Trata-se de um traço realmente bonito. Foi muito pelo desenho que comprei esta bd - já que não sou fluente em italiano.
Relativamente ao enredo, acompanhamos o escritor Pippo Quester, cujo tema do seu último livro é precisamente o mesmo desta bd - é ele que nos introduz ao mundo das palavras cruzadas, desde a sua génese até à Segunda Guerra Mundial (continuaremos a seguir o seu desenvolvimento no segundo volume?). Há ainda outra personagem, Zeno Porno (sim, é mesmo o seu nome), um autor de bd que trabalha para a Disney e que é um admirador admitido de Quester. É maioritariamente através do diálogo entre estas duas personagens que a acção da bd se desenvolve, intercalada de forma regular por episódios da vida de Zeno.
E é aqui que os problemas começam, o enredo principal não é necessariamente entusiasmante e os episódios intercalares não parecem ter muito sentido dentro da narrativa principal. Se a função destes momentos é apaziguar o nervosismo do leitor mais habituado a acção frenética, a verdade é que não cumprem esse objectivo. Estas páginas têm datas (Bacilieri assina e data os capítulos) anteriores às que lidam com a narrativa principal e eu fico com a sensação que são chumaço para a história. Não têm grande interesse e não ressoam os conceitos e emoções. O livro parece uma manta de retalhos de anedotas dissonantes.
(Sem falar nas múltiplas referências - umas subtis, outras menos - à banda desenhada que surgem durante toda a leitura e que, para mim, diluem e confundem o propósito do livro.)
Outra coisa que me deixou "frio" tem a ver com a balonagem e letragem. Apesar do meu italiano algo rudimentar, eu percebo grande parte do que está escrito e vi a minha leitura dificultada por: filacteras mal colocadas e mal identificadas; balões múltiplos ligados cuja sequência não era a mais natural para ser seguida pelo olho; etc., de forma que dei comigo a ler coisas que se referem as personagens e acções diferentes, gerando ainda mais confusão. A letragem é feita à mão, o que para mim é sempre uma mais valia para um livro - dá-lhe identidade - mas neste caso, há momentos em que as palavras não têm espaçamento o suficiente para serem lidas individualmente - talvez tenha a ver com o meu domínio da língua ou a minha pouca familiaridade com o fluir do italiano.
"Fun" é um livro bonito de um autor experiente que me frustrou enquanto leitor, seja pela história que acabou por não me envolver, como por pequenos pormenores em termos de fluidez de leitura (literária ou visual) que me irritaram. Espero que o segundo volume seja mais agradável (e contextualize tudo, especialmente, o subenredo da tentativa de assassinato).
P.s.: Como alternativa à minha leitura, sugiro a análise de Pedro Moura, que é muito mais entusiasta e, provavelmente, mais bem fundamentada.
Foi em Florença que encontrei este livro, numa das La Fetrinelli (mais ou menos o equivalente italiano da Fnac) locais.
"Fun" é sobre o jogo das palavras cruzadas. O livro faz uma revisão dos intervenientes, a importância do jogo em eventos históricos e, surpreendentemente, os seus paralelismos com a arte da banda desenhada.
O que torna chamativo este título é o superficial, ou seja, a arte que encontramos a adornar a capa e interiores. Bacilieri é um desenhador talentoso, tem um estilo próprio pormenorizado e atraente, as suas personagens são facilmente identificáveis, os locais retratados realistas e harmoniosos. Trata-se de um traço realmente bonito. Foi muito pelo desenho que comprei esta bd - já que não sou fluente em italiano.
Relativamente ao enredo, acompanhamos o escritor Pippo Quester, cujo tema do seu último livro é precisamente o mesmo desta bd - é ele que nos introduz ao mundo das palavras cruzadas, desde a sua génese até à Segunda Guerra Mundial (continuaremos a seguir o seu desenvolvimento no segundo volume?). Há ainda outra personagem, Zeno Porno (sim, é mesmo o seu nome), um autor de bd que trabalha para a Disney e que é um admirador admitido de Quester. É maioritariamente através do diálogo entre estas duas personagens que a acção da bd se desenvolve, intercalada de forma regular por episódios da vida de Zeno.
E é aqui que os problemas começam, o enredo principal não é necessariamente entusiasmante e os episódios intercalares não parecem ter muito sentido dentro da narrativa principal. Se a função destes momentos é apaziguar o nervosismo do leitor mais habituado a acção frenética, a verdade é que não cumprem esse objectivo. Estas páginas têm datas (Bacilieri assina e data os capítulos) anteriores às que lidam com a narrativa principal e eu fico com a sensação que são chumaço para a história. Não têm grande interesse e não ressoam os conceitos e emoções. O livro parece uma manta de retalhos de anedotas dissonantes.
(Sem falar nas múltiplas referências - umas subtis, outras menos - à banda desenhada que surgem durante toda a leitura e que, para mim, diluem e confundem o propósito do livro.)
Outra coisa que me deixou "frio" tem a ver com a balonagem e letragem. Apesar do meu italiano algo rudimentar, eu percebo grande parte do que está escrito e vi a minha leitura dificultada por: filacteras mal colocadas e mal identificadas; balões múltiplos ligados cuja sequência não era a mais natural para ser seguida pelo olho; etc., de forma que dei comigo a ler coisas que se referem as personagens e acções diferentes, gerando ainda mais confusão. A letragem é feita à mão, o que para mim é sempre uma mais valia para um livro - dá-lhe identidade - mas neste caso, há momentos em que as palavras não têm espaçamento o suficiente para serem lidas individualmente - talvez tenha a ver com o meu domínio da língua ou a minha pouca familiaridade com o fluir do italiano.
"Fun" é um livro bonito de um autor experiente que me frustrou enquanto leitor, seja pela história que acabou por não me envolver, como por pequenos pormenores em termos de fluidez de leitura (literária ou visual) que me irritaram. Espero que o segundo volume seja mais agradável (e contextualize tudo, especialmente, o subenredo da tentativa de assassinato).
P.s.: Como alternativa à minha leitura, sugiro a análise de Pedro Moura, que é muito mais entusiasta e, provavelmente, mais bem fundamentada.
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