7 de Setembro de 2013

"Hecho en CHINA. Pensado en EUROPA."
FAGOCITOSIS
Marcos Prior & Danide
Ediciones Glénat, 2011
120 págs., tetracromia

A fagocitose é o processo pelo qual determinadas células conseguem capturar e digerir partículas sólidas. No ser humano tem um papel na defesa do corpo contra microorganismos patológicos. As células capazes deste mecanismo envolvem, por exemplo, uma bactéria e depois, através da acção de um sistema "digestivo" primitivo, destroem-na. É, de certa forma, o equivalente a nível celular do acto de "devorar".
Comecemos pela capa. Na capa estão representados dois indivíduos de mão erguida, o seu gesto sugere que fazem parte de algum movimento, revolucionário ou não, as suas roupas indicam que têm posses, pertencem provavelmente à classe média-alta, a pender para a alta, acompanha-os um cão de raça caniche, que está associado a riqueza, e sorriem, o que sugere que estão do lado vencedor da revolução ou que, pelo menos, estão a ser beneficiados por ela. Por cima deles o logótipo  do livro espelha o símbolo da Mastercard®. Desta feita, os círculos não são do mesmo tamanho, as cores estão invertidas (o amarelo à esquerda e o vermelho à direita) e, mais tarde no livro, quando chegamos ao fim, primeiro na secção de design do logótipo, depois, finalmente, na contracapa, apercebemo-nos que o círculo maior está a ganhar terreno ao mais pequeno e que, com a proximidade, o segundo perde as suas qualidades (forma, cor) e que os limites desapareceriam por completo se a acção continuasse. O que se esperaria seria a obliteração total do círculo mais pequeno que seria "devorado" pelo maior. Como na fagocitose e como é descrita nestas etapas finais do livro, trata-se de uma "interacción celular entre desiguales".
"Fagocitosis" é um livro que aborda temas muito actuais: o capitalismo agressivo; o funcionamento do mercado financeiro; as políticas do prémio Nobel (dissecadas por Carl Sagan); técnicas de marketing metafísicas; as exigências cada vez mais absurdas para se conseguir um emprego; etc.
A forma como o faz é muito interessante, Marcos Prior opta por diferentes apresentações, desde uma página do YouTube, passando pelo percorrer de uma cidade num formato street view do Google Maps, até à estrutura mais típica de um policial, entre outros. Sempre com uma dose de humor e ironia e, de certa forma, algum desespero.
É sem dúvida o aspecto visual que mais chama a atenção nesta obra, a arte versátil de Danide consegue, sem aparente esforço, manobrar entre estilos gráficos, do mais realista a um traço simples reminiscente de Vázquez.
Uma temática algo pesada com uma aparência deslumbrante fazem desta a bd dos tempos modernos, é tudo muito bonito mas "há algo de podre no reino da Dinamarca". E seria verdade se a Dinamarca não fosse um país escandinavo mas sim um país do sul da Europa. Que não é.

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