12 de Novembro de 2014

"How's the soup taste?"
CHEW, VOL.1: TASTER'S CHOICE
John Layman & Rob Guillory
Image Comics, 2009
128 págs., tetracromia, digital

Nem de propósito, a G. Floy publicou recentemente, em português, o primeiro volume de Chew, a história de um detective "diferente".
Tony Chu é um cibopata, ou seja, é capaz de ter a noção da história completa das coisas que ingere. Este seu poder tem grandes implicações na sua vida pessoal e profissional, muitas vezes tendo de pôr de parte a moralidade vigente e recorrer ao canibalismo para resolver casos mais difíceis.
Chu foi recrutado pela FDA (Food and Drugs Administration) para fazer parte de uma equipa especializada em crimes que envolvam comidas ilegais, como, por exemplo, carne de galinha, cujo consumo nesta realidade foi proibido após a gripe das aves.
Estranhamente, o único alimento imune ao seu dom é a beterraba.
Este tipo de situações bizarras é gerido de uma forma perita por John Layman que desenvolve uma narrativa empolgante desde o início do livro.
Layman tem precisamente como principal ponto forte o seu sentido de humor que se encontra num contínuo entre o absurdo e o nojento.
O elenco peculiar só faz com que a leitura seja ainda mais divertida, especialmente se tivermos em conta a interacção de Chu com o seu superior.
Para além desta vertente mais engraçada, Chew tem um à vontade com a introdução de  sub-enredos intrigantes que conferem à narrativa principal uma possibilidade de longevidade praticamente infinita. Cada novo capítulo introduz mais uma questão que, embora fique por resolver, acaba por não interferir com a narrativa central, muito pelo contrário, expande-a.
O desenho de Rob Guillory tem algo de desengonçado e estranho, esta idiossincrasia pode não ser do agrado de todos mas adapta-se intimamente ao ambiente da história, seja dos momentos mais sinistros  à hilaridade de uma piada estúpida.
Aquele primeiro momento que Chu prova a canja e tem a sua revelação é magistralmente representado por Guillory e talvez seja o melhor momento do livro.
Há algo na leitura de Chew que me faz pensar em Dog Mendonça e Pizzaboy, se calhar tem que ver com a semelhança física entre os protagonistas de cada livro ou mesmo entre os traços de Juan Cavia e Rob Guillory. Pode, também, e mais provavelmente, ser só impressão minha.
No fim de contas, este primeiro volume de Chew não tem como objectivo dar ao leitor a experiência de uma leitura completa mas sim um aguçar de apetite para o que aí vem.
É uma leitura que tem tudo a ver com o que eu considero entretenimento: tem piada e um excelente conceito a fundamentar uma história plena de potencialidades.
Uma óptima escolha da G. Floy no meio de outras óptimas escolhas que constituem esta sua nova fornada de títulos.

P.s.: Esta foi a última das bds incluídas no Humble Bundle da Image Comics. Foi uma longa e épica jornada mas finalmente acabou. 
Na verdade, já tinha lido este primeiro volume em revista mensal mas foi há tanto tempo que já não me lembrava bem do conteúdo, isso fez com que atrasasse cada vez mais esta leitura mas, agora, em retrospectiva, percebo que não fazia sentido essa hesitação, Chew lê-se muito bem uma segunda e, porventura, terceira vez.

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