5 de Dezembro de 2016

"Dear God, dear God, tinkle tinkle hoy!"
Goodnight Punpun Omnibus, Vol. 1
Inio Asano
Viz Media, 2016
448 págs., P&B, capa mole

A memória da nossa infância é irreal. É uma manta de retalhos de nostalgia e fantasia. É impossível reviver o passado e mesmo saber o que sentimos na altura em que as coisas aconteceram.
O mundo de Punpun é assim, tem uma base nostálgica e inocente, uma infância vivida de brincadeiras com os nossos amigos e da descoberta do amor pueril.
Infelizmente para Punpun (felizmente? para o leitor), a sua infância não representa um ideal romântico. A normalidade é constantemente agredida, por vezes literalmente, pelos desejos adultos, pelos desejos dos adultos, por essa bizarria que é a realidade irreal.
Punpun é um menino-pássaro que se apaixona por Aiko, recém-chegada à sua turma, e a quem declara amor eterno até não conseguir cumprir o prometido - como um adulto. A sua vida familiar disfuncional, caracterizada pelas discussões dos pais culmina violentamente numa ruptura com o status quo domiciliário. Mesmo os seus primeiros encontros com uma sexualidade precoce e natural são pervertidos pelo irracional e homicida.
É este constante romper com o que devia ser o caminho natural da infância que fazem de "Goodnight Punpun" uma obra excepcionalmente adulta. Se até há subjacente à narrativa uma melancolia, é precisamente isso, um sentimento de tristeza e pesar agridoce.
Num mundo onde Deus responde mas não dá respostas, uma criança só consegue dar sentido às coisas se houver algum sentido nelas. Mas não há.

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