11 de Janeiro de 2012

175113
THE COMPLETE MAUS
Art Spiegelman
Penguin Books, 2003
296 págs., P&B


Maus relata a história da sobrevivência de Vladek Spiegelman durante a Segunda Guerra Mundial, contada pela mão do seu filho, Art.
É com este livro, inicialmente publicado em dois volumes  em 1986 e 1991 (e julgo antes até em capítulos na revista de bd artística de  Spiegelman, Raw), que Art Spiegelman atinge o estatuto que ainda acompanha o seu nome e é também com ela que a banda desenhada americana alcança reconhecimento como forma de expressão adulta, ganhando um prémio Pulitzer.
O que nos é contado divide-se em dois momentos diferentes: no presente, somos testemunhas da relação conflituosa de Art com o seu pai e onde o autor divulga ao que se propõe, as suas inseguranças em relação  ao projecto e à representação que faz do pai e do Holocausto; no segundo momento presenciamos a luta pela sobrevivência de Vladek e da sua família, judeus polacos, no ambiente inumano da altura. Há momentos de verdadeiro horror, sempre em primeira pessoa, a voz de Vladek (voz essa com uma representação muito própria, Spiegelman-autor decide manter as incorrecções no inglês do pai) conta-nos cada vivência, cada momento, e se há viés no que é dito, conseguimos perceber de onde vem, pois passamos a conhecer Vladek intimamente, as suas respostas passam a ser naturais.
Um dos pontos que definem este "texto gráfico" é a escolha de representar cada uma das diferentes nacionalidades/etnias por um animal específico, a escolha - rebelde - do rato para os judeus parece óbvia após ler a citação na página 164, embora pareça ser uma forma de despersonalização, esta representação aproxima-nos ainda mais das personagens, estamos mais atentos ao que dizem e à sua linguagem corporal, para além de que foi o povo judeu a ser oprimido e não um indivíduo especifico.
O preto e branco objectiva o relato, a simplicidade do traço é enganadora e propositada, podemos até compará-lo com o da "bd dentro da bd" (págs. 102-105) em que o desenho é mais pormenorizado e carregado, mais escuro, e mais pessoal (relativamente ao autor), embora a restante obra também o seja, parece tentar ser mais abrangente.
Na segunda metade do livro (o segundo volume), são-nos apresentadas as consequências do primeiro volume, Art Spiegelman representa-se com a máscara de rato (não será mais judeu mas alguém que o finge ser? Ou é visto como tal?) e por debaixo de si os cadáveres das vítimas do Holocausto, a base do seu sucesso e agora também da sua culpa pelo mesmo e pelo uso deste tipo de material e na sua regressão a uma corpo infantil quando confrontado com as pressões inerentes a esse sucesso. É também nesta altura que Spiegelman-autor tenta chamar a atenção para o formato da sua mensagem (na sua conversa com Françoise, no carro - pág. 176), a bd, e a forma como ela limita e molda a mensagem a transmitir.
De forma honesta e algo neurótica, Art Spiegelman, demorou treze anos a concluir a sua obra-prima, confrontou o seu passado e a sua relação com o pai e permitiu-nos como leitores a perceber até que ponto estamos próximos da catástrofe e da salvação. E tudo isto através da banda desenhada. Dá que pensar. 

1 comentário:

  1. Tenho que ler brevemente. Já há muito que o decidi, mas acabo sempre por adiar. O facto de já ter estado na Polónia e especialmente em Auschwitz vai influenciar bastante a experiência da leitura, como acontece com qualquer relato do holocausto, é um tema que me interessa e afecta especialmente. O Maus interessa-me particularmente por já saber de antemão muito sobre o livro, por já ter admiração pelo autor e por achar fenomenal a ideia de representar cada povo através de um animal/estereotipo que nos faz pensar se era assim que se viam, que eram vistos pelos nazis, ou que são vistos por nós agora ao olhar para o passado. O facto de saber em que consiste a segunda parte ainda me dá mais vontade de pegar no livro já!
    Depois darei a minha opinião.

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