14 de Fevereiro de 2012

HIERONYMUS B.: 1997-2007
Ulf K.
Top Shelf Productions, 2008
58 págs., P&B

É dentro de um mês (dias 10,11, 17 e 18 de março) que se vai realizar no Porto o Festival MAB Invicta, um regresso muito merecido ao norte do país de um evento que apesar do nome centra-se principalmente em bd. No meio da miríade de autores convidados, há um nome que reconheço: Ulf K., um alemão com  obra já editada em Portugal pelas mãos das Edições Polvo.
Decidi então que esta seria uma boa altura como outra qualquer para me familiarizar com o trabalho de Ulf. Das duas bd's publicadas em Portugal pela editora tentaculada só conhecia uma, nomeadamente, "A primeira Estrela e outras histórias", de 2003, a outra é uma colaboração com  o argumentista Andreas Dierssen: "O ano em que fomos campeões mundiais" (desconheço-lhe o ano), que por casualidade encontrei, tanto uma como outra, numa daquelas feiras do livro esporádicas na estação do Oriente. Escolhi a primeira para ler e a outra ainda por lá deve estar.
Outra bd que conhecia do alemão era "Hieronymus B.: 1997-2007", esta editada por inúmeras casas mas a que me era mais acessível era a versão americana da Top Shelf Productions e é por essa que começo.
Portanto, "Hieronymus B." é uma colectânea de histórias curtas produzidas no intervalo de uma década que são protagonizadas por um escriturário homónimo do pintor quinhentista Bosch.
As histórias têm um elemento onírico, com regras próprias, muito semelhantes aos contos infantis, também sugerido pela antropomorfização dos elementos naturais, por exemplo, as nuvens que têm por sua vítima de eleição B., entre os vários antagonistas é mais proeminente o seu chefe, autómato da realidade, que tenta ancorar B. à mesma, mais propriamente ao seu trabalho, mas com diferentes graus de sucesso .
Ao longo da obra nota-se a evolução no traço de K., à medida que estiliza o desenho da personagens, elas adquirem um ar mais infantil e "sólido", o tal icónico que McCloud refere. Não é à toa que Ulf K. ganhou o prémio Max und Moritz para melhor autor alemão em 2004, o contraste eficaz entre preto e branco, a sua narrativa (muda!) fluida que faz com que o livro se leia muito rapidamente.
Talvez a única crítica ao livro (que não foi pensado como tal) é que é uma colagem das várias histórias e, embora tenha uma temática recorrente, não funciona bem como unidade. Sabe a pouco.

A PRIMEIRA ESTRELA E OUTRAS HISTÓRIAS
Edições Polvo, 2003
48 págs., P&B

Dentro de um caixote pequeno, enterrado no meio de inúmeros títulos da Polvo a preço reduzido , estava "A primeira Estrela e outras histórias". Já o tinha visto antes, quando a bd estava espalhada em cima da mesa, lá ao fundo, e agora tinha a desculpa para o comprar. Era o último.
Desta vez o que liga cada uma das histórias não é o seu protagonista mas antes a temática.
A noite é a constante, seja pela sua personificação ou dos seus componentes, seja como motivação das personagens.
Aqui não há só a pantomima como em "Hieronymus B.", mas o uso de palavras não deixa de ser meramente acessório (o que é bom, implica grande mestria), excepto talvez nas últimas páginas onde o autor, como personagem, tenta transmitir uma noção pessoal. Se calhar a sua visão do mundo e da sua obra.
Mesmo assim repito o que escrevi antes: sabe a pouco.
Espero um dia ler algo mais longo do cartoonista que lhe permita  aprofundar os temas que lhe são queridos. E daí, talvez seja isso mesmo que ele quer fazer com as suas histórias curtas coligidas.

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