26 de Julho de 2014

"Who cares!!!"
QCDA #1000
Zé Burnay, Rudolfo, André Pereira e Afonso Ferreira
Associação Chili Com Carne, 2013
16 págs., monocromia, giant floppy

Há um ano as paredes da Galeria Mundo Fantasma estavam cobertas pelos trabalhos de jovens autores de bd portugueses. A exposição chamava-se Lixo Futuro e na altura não causou grande impressão, pelo menos pelos comentários que ouvi da boca dos visitantes. Na verdade, julgo que esta reacção teve a ver com duas particularidades: a primeira,  a distribuição dos trabalhos expostos que, embora se coadunasse com o conceito por detrás da exposição, era algo confusa e pouco sofisticada; a segunda, alguns dos temas/géneros escolhidos pelos autores nas suas obras não são do agrado do comum frequentador de uma loja de bd comercial, digo, que vende o tradicional comic americano, bem definido na sua estrutura e temas.
Entre os expostos encontravam-se Zé BurnayRudolfoAndré Pereira e Afonso Ferreira, os autores de QCDA #1000, uma antologia de histórias curtas em inglês e em formato avantajado (A3) publicada pela editora Chili Com Carne.
Como a exposição Lixo Futuro a QCDA #1000 é uma declaração de intenções. A contracapa expõe os possíveis significados do título e acaba por denunciar o intuito desta bd: conhecer os autores.
Esta antologia é composta por quatro histórias, a saber: "The tower of the Necromancer" de Zé Burnay, uma fantasia heróica com laivos de metal, uma amostra do seu projecto actual actualizado online semanalmente, Witch Gauntlet; "There's a weird bump on my cheek!!!" de Rudolfo, difícil de descrever mas arrisco chamá-la uma história de horror romântico; "Eschaton 3000" de André Pereira, sobre amor adolescente e o Apocalypse misturado com o My Little Pony (mais um complicado de descrever) e, por fim, "The Crystal and the Sphere" de Afonso Ferreira, uma aventura paródica à la Indiana Jones.
Em vez de falar em pormenor sobre cada uma das histórias, vou só referir as coisas que mais me marcaram. Por 7€, vale muito a pena o leitor ter uma opinião própria.
Portanto, Burnay é o autor com o estilo mais definido, o seu desenho é fácil de identificar e o mais "polido"; Rudolfo consegue desorientar o leitor facilmente, transmitindo a sensação de desconforto que a história pede, mas a determinada altura as legendas tornam-se ilegíveis (o que até pode ser a intenção do autor) e o esforço de leitura não compensa; André Pereira é o que mais chama a atenção dos quatro, é ambicioso no seu esquema de página, com múltiplas correntes narrativas a desembocar numa só, por vezes, também a gerar alguma confusão; André Ferreira tem o estilo de desenho mais simpático, a fazer lembrar o Adventure Time, e um apelo mais "comerciável" (não é um insulto).
Regra geral, é uma bd bem conseguida que ganhava em ter um editor que fizesse revisão dos textos - escaparam alguns erros ortográficos - e um tema mais coeso mas é, de qualquer forma, uma óptima iniciativa que se devia repetir. Regularmente. Faz favor.

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