10 de Agosto de 2016

"There's always time to do what's right!"
GANGES #5
Kevin Huizenga
Auto-edição, 2016
32 págs., dicromia, floppy

O sítio what  things do é um dos meus locais favoritos para encontrar bd. Primeiro, porque reúne num só local autores que eu aprecio (Jordan Crane, Sammy Harkham, Kevin Huizenga, Steven Weissman, etc.); segundo, porque para além de antecipar a publicação oficial das obras destes autores, é também um local onde eles vendem outro tipo de arte, nomeadamente, ilustrações; terceiro, porque o que apresenta consegue conciliar as visões (não tão) antagonistas da bd como entretenimento e da bd como arte.
O quinto número de "Ganges" faz parte do que eu chamo a "trilogia dos 5". Passo a explicar, encomendei três bds no sítio que, por coincidência, ou talvez não, são todos o quinto número da sua respectiva publicação (para além de "Ganges"  de Huizenga, temos "Crickets" de Sammy Harkham e "Uptight" de Jordan Crane). Qualquer uma destas revistas pode inserir-se na categoria de antologia de autor de bd independente.
Então o que é que Kevin Huizenga traz de novo? Talvez nada.
Mas pelo que retirei de "Ganges" (nome de rio e da personagem principal), há mais do que isso. Para já, o desenho de Huizenga por vezes faz lembrar o lendário George Herriman - mais no traço que no virtuosismo - e revela uma mestria do meio da bd que vejo raramente. Há especificamente uma cena onde a representação da sonolência e confusão mental do protagonista é excepcionalmente retratada.
Depois, temos a capacidade de explorar o pensamento humano, extremamente realista, exemplificada pela cena inaugural da revista.
Por último, a temática. Huizenga acredita na bd como meio de transmissão de conhecimento e dos seus interesses. A maioria deste volume explora o pensamento de James Hutton, geólogo e naturalista, e a sua teoria do uniformitarismo que pressupõe uma uniformidade dos processos geológicos ao longo do tempo (observado, por exemplo, nos diferentes estratos da crosta terrestre). Sim, são temas "pesados", mas Huizenga ilustra-os de uma forma tão dinâmica e visualmente interessante que é impossível o leitor não se embrenhar nas ideias expostas.
"Ah, é mais um daqueles autores hipsters (que tu tanto adoras) que não conseguem contar uma história normal!"
Até pode ser verdade, mas de histórias normais e, diria até, banais, está a bd cheia e Huizenga é uma lufada de ar fresco, principalmente pela forma como faz bd. 
Mas não se preocupem, ainda tenho mais dois autores hipsters sobre quem escrever esta semana para confirmação das vossas teorias. E daí, talvez não.

1 comentário:

  1. Fiquei curiosa. Sobretudo por não ser uma história banal e depois pelo desenho.

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